quinta-feira, 30 de junho de 2011

Marina Tsvetáieva (2)

Como lágrima morna -
Uma gota nos olhos entorna.
De uma altura sem fim,
Alguém chora por mim.


(in Indícios flutuantes, trad. Aurora F. Bernardini, Martins Fontes, 2006)

Marina Tsvetáieva

Beijar na testa - apagar o cuidado.
Beijo na testa.

Beijar nos olhos - tirar a insônia.
Beijo nos olhos.

Beijar nos lábios - matar a sede.
Beijo nos lábios.

Beijar na testa - apagar a lembrança.
Beijo na testa.

(in Indícios flutuantes, trad. Aurora F. Bernardini, Martins Fontes, 2006)

"Um cachorro vira-lata... mais está à procura de alimento e carinho"

"ROUBO – HABEAS CORPUS – PRISÃO EM FLAGRANTE – CONCURSO DE AGENTES – UTILIZAÇÃO DE UM CÃO COMO FORMA DE GRAVE AMEAÇA – INEXISTÊNCIA DA PROVA DO ATO OU DA GRAVE AMEAÇA – ACUSADOS QUE VINHAM DE UMA FESTA POPULAR EM COMPLETO ESTADO DE EMBRIAGUEZ -–INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS QUE INDICAM A NECESSIDADE DA PRISÃO CAUTELAR – Ordem concedida. Maioria.

Informam os autos que o acusado vinha de uma festa popular denominada Micarecandanga em completo estado de embriaguez, e que teria se apossado de pequenos valores de uma pessoa que por ele teria sido ameaçada.

No flagrante a autoridade policial informa que o acusado teria se valido de um cachorro como forma de ameaça à vítima, mas a peça não anota a sua raça, seu comportamento agressivo, ou se o mesmo pertencia realmente ao Pacte.

A versão constante do flagrante não se amolda com o que realmente aconteceu por ocasião do evento, pois se o Pacte. vinha às altas horas da madrugada de uma festa popular completamente embriagado na companhia de um amigo, também em elevado estado etílico, é algo absolutamente inverossímil que o mesmo tenha levado seu cão para a festa a fim de ameaçar a quem quer que seja, sendo francamente inconcebível a presença de um animado cachorro em plena multidão de foliões acompanhando seu dono no picante e movimentado ritmo da música baiana.

Os autos demonstram às escâncaras que o cachorro que acompanhou o Pacte. até a delegacia era um vira-lata comum e inofensivo, daqueles que comumente acompanham as pessoas, em especial os bêbados, de madrugada à espera de um carinho e quem sabe de algum alimento, e que jamais seria capaz de ameaçar a quem quer que seja, pois se o cão fosse realmente violento deveria ser descrito e apreendido pela autoridade, para posteriormente ser remetido ao Serviço de Zoonose do GDF.

Não há nos autos nada que demonstre a existência quer do ato descrito no flagrante ou mesmo da violência ou da grave ameaça que teria sido praticadas contra a vítima, e o cachorro que acompanhou o Pacte. até a Delegacia, onde segundo a autoridade ficava andando de um lado para o outro no pátio com o rabo abanando, em nenhuma hipótese pode configurar-se como meio idôneo para ameaçar a quem quer que seja, pois à toda sabença um cachorro vira-lata que vive a percorrer as ruas de madrugada mais está à procura de alimento e carinho do que meter-se em confusão.

Inocorrendo, no caso em comento, qualquer das hipóteses do art. 312, do CPP, deve o Pacte. responder em liberdade a ação penal que lhe está sendo movida.




Ordem concedida. Maioria."

(ementa de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, no julgamento do "habeas corpus" n. 2001.00.2.005779-0, em 4 de outubro de 2001)





LINK para o inteiro teor:

http://tjdf19.tjdft.jus.br/cgi-bin/tjcgi1?DOCNUM=1&PGATU=1&l=20&ID=62274,12922,2111&MGWLPN=SERVIDOR1&NXTPGM=jrhtm03&OPT=&ORIGEM=INTER

foto: http://sobreorisco.blogspot.com/2009_08_01_archive.html

quarta-feira, 29 de junho de 2011

nada e voa

Nada que nada voa
exceto pinguim

(Bruno Fischgold)


a busca

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em 26 de fevereiro de 2011 (às 17h05)

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resultado

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Aquarela mecânica (3). Esforço

Aquarela mecânica (2). Esboço

Mostra de Cinema Árabe



Será realizada, em Brasília, a “Mostra de Cinema Árabe”, no Centro Cultural Banco do Brasil, no período de 28 de junho a 10 de julho de 2011. A entrada é franca.

A mostra reúne 17 filmes, produções recentes, que tratam de questões cotidianas, vivenciadas pela sociedade dos dez países representados: Argélia, Egito, Emirados Árabes, Iraque, Jordânia, Líbano, Marrocos, Palestina, Síria e Tunísia.

São obras da nova geração de cineastas, aclamadas pela crítica internacional, e que fizeram parte dos principais festivais mundiais – Cannes, Sundance, Toranto, Veneza e Berlim -, selecionadas por Nagila Guimarães, Dora Bochoucha e Lina Menzli, curadoras da Mostra.

Entre as produções premiadas: Caindo por Terra (2008), de Chadi Zenedine; Filho da Babilônia (2009), de Mohamad Al Daradji, nomeado em 2010 pela Revista Variety como o Cineasta do Ano do Oriente Médio ; Cidade da Vida (2009), de Ali Mostafa, primeiro filme dos Emirados Árabes a ser distribuído nacional e internacionalmente; Outra Vez (2009), de Joud Said, o mais jovem diretor sírio a concluir um longa-metragem; Microfone (2010), de Ahmad Abdallah, primeiro filme egípcio a receber o prestigioso prêmio The Golden Tanit do festival de Cartago 2010; e Fora da Lei (2010), de Rachid Bouchared, filme indicado ao Oscar 2011 de melhor filme estrangeiro.

Fonte: www.mostracinemaarabe.com.br/2011/

terça-feira, 28 de junho de 2011

Emily Dickinson

Me oculto em minha flor,
Que fana no teu Vaso,
Sem suspeitar, sentes por mim --
Quase tristeza acaso.


(in "Não sou ninguém - poemas", trad. Augusto de Campos, Ed. Unicamp, 2009)


Escondo-me na minha flor,
Para que, murchando em teu Vaso,
tu, insciente, me procures --
Quase uma solidão.


(in "80 poemas de Emily Dickinson", trad. Jorge de Sena, Ed. Guimarães, 2010)

Sophia de Mello Breyner Andresen (2)

ACAIA


Aqui despi meu vestido de exílio
E sacudi de meus passos a poeira do desencontro


(in Geografia, Editorial Caminho, Lisboa, 2004)

Sophia de Mello Breyner Andresen

CAMINHO

Na marcha pelo deserto eu sabia
Que alguns morreriam

Mas pensava sob o céu redondo
- Onde
O limite do meu amor da minha força?

E eis que morro antes do próximo oásis
Com a garganta seca e o peso
Ilimitado do sol sobre os meus ombros

Eis que morro cega de brancura
Cansada demais para avistar miragens

Eu sabia
Que alguém
Antes do próximo oásis morreria


(in Geografia, Editorial Caminho, Lisboa, 2004)

Barbara



Dis, quand reviendras-tu?


Voilà combien de jours, voilà combien de nuits,
Voilà combien de temps que tu es reparti,
Tu m'as dit cette fois, c'est le dernier voyage,
Pour nos cœurs déchirés, c'est le dernier naufrage,
Au printemps, tu verras, je serai de retour,
Le printemps, c'est joli pour se parler d'amour,
Nous irons voir ensemble les jardins refleuris,
Et déambulerons dans les rues de Paris,

(refrain:)
Dis, quand reviendras-tu?
Dis, au moins le sais-tu?
Que tout le temps qui passe,
Ne se rattrape guère,
Que tout le temps perdu,
Ne se rattrape plus,

Le printemps s'est enfui depuis longtemps déjà,
Craquent les feuilles mortes, brûlent les feux de bois,
A voir Paris si beau dans cette fin d'automne,
Soudain je m'alanguis, je rêve, je frissonne,
Je tangue, je chavire, et comme la rengaine,
Je vais, je viens, je vire, je me tourne, je me traîne,
Ton image me hante, je te parle tout bas,
Et j'ai le mal d'amour, et j'ai le mal de toi,

(refrain)

J'ai beau t'aimer encore, j'ai beau t'aimer toujours,
J'ai beau n'aimer que toi, j'ai beau t'aimer d'amour,
Si tu ne comprends pas qu'il te faut revenir,
Je ferai de nous deux mes plus beaux souvenirs,
Je reprendrai la route, le monde m'émerveille,
J'irai me réchauffer à un autre soleil,
Je ne suis pas de celles qui meurent de chagrin,
Je n'ai pas la vertu des femmes de marins,


(refrain)”.

(letra e música: Barbara)


Diga, quando você voltará?


Há tantos dias, há tantas noites,
há tanto tempo você partiu em viagem,
dizendo que seria a última vez,
mas, para os nossos corações despedaçados, é apenas o último naufrágio.
E me dizia: 'na primavera, você verá que eu estarei de volta,
Na primavera, é agradável falar de amor,
Veremos juntos reflorescer os jardins
E flanaremos pelas ruas de Paris',

Diga, quando você voltará?
Diga, sabe ao menos se virá?
Pois o tempo que passa
é difícil recuperar,
E o tempo perdido,
é impossível resgatar,

A primavera já nos escapou há bastante tempo,
Estalam as folhas mortas, queimam os gravetos,
Vendo Paris tão bela neste final de outono,
De súbito me esvaneço, sonho e estremeço,
eu hesito, eu cambaleio e, como um refrão,
eu vou, eu venho, eu me reviro e me arrasto
Sua imagem me assombra, e eu falo baixinho:
Sofro de amor, sofro por você,

(refrão)

Embora eu ainda te ame, e vá sempre te amar,
Embora seja apenas teu o meu amor,
Se você não compreender a urgência do teu retorno,
Farei de nós dois minha maior lembrança,
Seguirei meu rumo, o mundo me inebria,
Irei me aquecer sob outro sol,
Não sou o tipo de mulher que morre melancólica,
Não sou virtuosa para habitar um porto à tua espera.

(refrão).”

(trad. joão monteiro)

Felisberto Hernández (2)


“Minha primeira professora

Tinha apenas seis anos. Todas as manhãs, eu atravessava uma praça em aclive – morávamos ao pé de uma colina – para ir à escola. A professora era enorme; punha seus dedos gordos sobre a carteira e nos permitia fazer barulho. Eu fazia letras eme minúsculas, com linhas redondas iguais aos dedos dela. Uma tarde, sem que minha mãe soubesse, cruzei a praça e chamei a professora, batendo os pés na porta. Ela, com sua cabeça grande, apareceu na janela, como uma generosa vaca sem chifres.
– O que quer?
– Fazer uma visita.
– Bem, ficará um pouquinho, e depois terá que ir...
Quando abriu a porta da rua, passei rente à sua saia cinza. De mãos dadas, ela me levou aos fundos da casa. Sob um arbusto, havia uma galinha deitada; começou a chocar e, debaixo de seu corpo – de um cinza parecido com a saia da senhorita –, começaram a aparecer pintinhos amarelos, que pareciam estar tão aquecidos quanto os meus dedos entrelaçados aos dela. Depois, acompanhou-me até a porta, e eu lhe disse:
– Daqui a pouquinho voltarei.
– Não, não, outro dia.
Mas continuei pensando. Nessa noite, sozinho em minha cama, recordei-me da galinha com pintinhos e comecei a imaginar que eu vivia sob a saia da professora. No dia seguinte, repousando após o almoço, voltei a pensar a mesma coisa: àquela hora, eu não dormia; e meus pais estavam com os olhos fechados. Imaginava a professora em pé, encostada sob o arbusto; e eu, sob a sua saia, acariciava as suas pernas; ou melhor, as duas. Sentia calor e via que, onde acabavam as meias pretas (já minhas conhecidas), as pernas eram gordas como as de minha avó, e muito brancas. Tudo parecia bastante natural; enquanto eu a acariciava, a senhorita permanecia tão tranquila quanto a galinha dos pintinhos. Mesmo sob a saia, eu conseguia enxergar o rosto da professora; ela olhava distraída para os lados. Às vezes, vinha a sua mãe: era uma velhinha muito gentil (uma vez, serviu-me café com leite, mas eu não pude terminar porque já tinha tomado em casa). Era comum eu pensar na velhinha ou em qualquer outra coisa, sempre nos meus repousos após o almoço; de repente, me esquecia que eu deveria estar sob a saia; isso era cansativo porque teria que imaginar tudo de novo. Numa outra vez, pensei que a velhinha havia perguntado à filha:
– O que estão fazendo?
E a professora teria respondido:
– Tive crias.
Mas a mãe sabia de tudo, e retrucava como nos dias em que tinha doces e me dizia, de brincadeira: “Não tenho balas”. Nesse momento, a filha lhe piscava os olhos, e eu a via, enquanto acariciava as suas pernas. Durante quase todas as sestas (“siestas”) as galinhas de casa cacarejavam; eu as odiava; não me dava conta de que essas galinhas eram iguais às da professora. Quando chegavam as noites de verão, meus pais me deixavam brincar um pouquinho antes de me deitar; então, eu atravessava a praça, entrava no vestíbulo da professora e, de súbito, soltava um cacarejo que a assustasse.
Uma noite, da calçada, vi que ela carregava os pratos do refeitório à cozinha. O abajur, que estava sobre a mesa de jantar, tinha luz apenas suficiente para clarear a toalha. Sem que a professora me visse, entrei na sala e me escondi sob a mesa. Ela veio aos poucos, com os passos de sempre, mas, agora, usava uma saia branca; aproximou-se muito da mesa e eu, tocando o piso com a cabeça, olhei para cima e subi ao interior da saia: tudo estava escuro; mas clareava quando ela, para alcançar algo do outro lado da mesa, apoiava um pé e levantava o outro no ar. Fiz isso várias vezes, sem que minha cabeça tocasse os seus pés. Após levantar da mesa, ela voltou ao refeitório com passos lentos; encostou na borda do móvel, levantou um pé e deixou o outro ao solo. Então, apareci do lado de fora da saia e vi que o rosto estava coberto por um livro.
Entre nós, havia muita confiança; se ela me descobrisse sob a sua saia, eu lhe diria que estava brincando. Por fim, decidi entrar. Não sei se cheguei a tocar suas pernas; ela soltou um grito e, ao baixar o pé que estava suspenso no ar, me pisou; também senti que apertava a minha cabeça. Em seguida, vi cair o seu corpo inteiro, ouvi o estilhaço de alguns copos e cheguei a ver um pedaço branco da perna dela.
Quando se levantou, estava muito zangada e achei que me bateria; mas logo caiu em gargalhadas; queria falar mas não conseguia; virou a cabeça, foi ao vestíbulo e olhou para a cozinha: a mãe estava lavando os pratos e não havia escutado nada. A professora voltou até mim e, levantando um dedo, disse que contaria ao meu pai o ocorrido; ordenou-me voltar para casa. Passei diante dela, de cabeça baixa – mas ainda espreitava a saia –, caminhando lentamente; sabia, todavia, que ela me havia perdoado, e, por isso, eu estava feliz.
Ao atravessar a praça, recordei-me de seu sorriso e pensei: “Ela também me deseja sob a sua saia.”

(in Las Hortensias y otros relatos, ed. El cuenco de plata, Buenos Aires, 2009)

(trad. joão monteiro)


Download do AUDIO original do conto (em espanhol), extraído do blog “unmillondeamigos” (gerido pelo jornal argentino Clarín), narrado por Pacho O'Donnell:

http://www.megaupload.com/?d=H70LOOGG

fonte do arquivo de audio:
http://weblogs.clarin.com/revistaenie-unmillondeamigos/2009/09/05/pacho_con_felisberto/

foto: www.felisberto.org.uy

Felisberto Hernández

“Mi primera maestra

Cuando yo tenía seis años cruzaba, por las mañanas, una plaza inclinada —vivíamos en la falda de un cerro— y entraba a la escuela. La maestra era grandota; ponía, arrollados sobre el pupitre, sus dedos gordos y nos permitía hacer ruido. Yo hacía emes minúsculas con vueltas redondas como los dedos de ella. Una tarde, sin que mi madre supiera, crucé la plaza, llamé con el pie a la puerta de la maestra y apareció por la ventana su cabeza grande, parecida a la de una vaca buena sin cuernos.
—¿Qué quieres?
—Vengo a hacerle una visita.
—Bueno… te quedás un ratito y enseguida te vas…
Cuando abrió un poco la puerta de la calle yo pasé cerca de su pollera gris. Ella, con su mano tomó la mía y me llevó al fondo. Debajo de un paraíso había una gallina echada; empezó a cloquear y por debajo de su cuerpo —de un gris parecido a la pollera de la señorita— se asomaban pollitos amarillos. Estarían tan calentitos como mis dedos entre la mano de la maestra. Después ella me acompañó hasta la puerta y yo le dije:
—De aquí a un ratito voy a venir a hacerle otra visita.
—No, no; otro día.
Pero yo seguí pensando. Esa noche, cuando estuve solo en mi cama, me acordé de la gallina con pollos y empecé a imaginarme que vivía bajo la pollera de la maestra. Al día siguiente, a la siesta, volví a pensar lo mismo: a esa hora yo no dormía; y mis padres tenían los ojos cerrados. Suponía a la maestra de pie, recostada en el paraíso; y yo, debajo de su pollera le acariciaba una pierna; o más bien las dos. Sentía su calor y veía que después de terminar las medias negras que yo conocía, las piernas eran gordas como las de mi abuela y muy blancas.
Todo parecía muy natural; y mientras yo la acariciaba, la señorita se quedaba tan tranquila como la gallina de los pollos. Aunque estaba debajo de la pollera yo veía, sin embargo, la cara de la maestra; y ella miraba distraída para todos lados. A veces venía la madre: era una viejita muy buena —una vez me dio café con leche; pero yo no lo pude terminar porque ya había tomado en casa—. En algunas siestas yo me quedaba pensando en la viejita o en cualquier otra cosa; y de pronto me olvidaba que debía estar debajo de la pollera; eso me daba fastidio y hacía esfuerzos para imaginar todo de nuevo. En otra siesta pensé que la viejita le había preguntado a la hija:
—¿Qué están haciendo?
Y la maestra había respondido:
—Tengo cría.
Pero la madre sabía todo y hablaba como en los días que tenía caramelos y me decía, en broma: “No hay caramelos”. Ahora la hija le hacía una guiñada y yo la veía mientras le acariciaba las piernas. En casi todas las siestas las gallinas de casa cacareaban y yo las odiaba; no me daba cuenta que esas gallinas eran iguales a las de la maestra.
Cuando llegaron las noches de verano mis padres me dejaban jugar un ratito antes de irme a la cama; entonces yo cruzaba la plaza, entraba al zaguán de la maestra y de pronto soltaba una carcajada y la asustaba.
Una noche vi, desde la vereda, que ella iba a cada momento del comedor a la cocina llevando los platos. La lámpara que estaba encima de la mesa del comedor tenía pantalla y daba luz clara nada más que en el mantel. Sin que la maestra me viera, entré al comedor y me escondí debajo de la mesa. Al ratito ella vino, con los pasos de siempre, pero traía una pollera blanca; se acercó mucho a la mesa y yo, tocando el piso con la cabeza miré hacia arriba y me asomé al interior de su pollera: todo estaba un poco oscuro; pero se aclaraba más cuando ella, para alcanzar alguna cosa que estaría al otro lado de la mesa, apoyaba un pie y levantaba el otro en el aire. Yo hice varias veces la prueba sin que mi cabeza tocara sus pies. Después de levantar la mesa ella volvió al comedor con pasos lentos; se recostó al borde de la mesa, levantó un pie y dejó el otro en el suelo. Entonces yo me asomé por el lado de afuera de la pollera y vi que tenía la cara tapada con un libro.
Entre nosotros había mucha confianza; si ella me descubría debajo de su pollera, yo le diría que era jugando. Por fin me decidí a entrar. No sé si llegué a tocarle las piernas; ella soltó un grito y al bajar el pie que tenía en el aire, me pisó; también sentí que me apretaba la cabeza. Enseguida vi caer todo su cuerpo, oí sonar unos vasos que había en el aparador y alcancé a ver un pedazo blanco de la pierna de ella.
Cuando se levantó estaba muy enojada y creí que me pegaría; pero de pronto se echó a reír: quería hablarme y no podía; dio vuelta la cabeza, fue hasta el zaguán y miró para la cocina: la madre estaba lavando los platos y no había oído nada. La maestra volvió hacia mí y levantando un dedo me dijo que le mandaría decir a mi padre lo que yo había hecho y que ahora me fuera para mi casa. Yo pasé por delante de ella con la cabeza baja pero mirando la pollera blanca; caminaba lentamente pero me daba cuenta de que ella me perdonaba y me sentía feliz.
Al cruzar la plaza recordé su risa y pensé: “A ella le gusta que yo me meta debajo de su pollera.”

(in Las Hortensias y otros relatos, ed. El cuenco de plata, Buenos Aires, 2009)


Download do AUDIO do conto, extraído do blog “unmillondeamigos” (jornal argentino Clarín), narrado por Pacho O'Donnell:

http://www.megaupload.com/?d=H70LOOGG

fonte do arquivo de audio:
http://weblogs.clarin.com/revistaenie-unmillondeamigos/2009/09/05/pacho_con_felisberto/

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aquarela mecânica

Tahar Ben Jelloun

Que meu povo me perdoe


Você que não sabe ler

tome meus poemas
tome meus livros

faça-os fogueira para aquecer suas solidões
que cada palavra alimente sua brasa
que cada sopro permaneça no céu que se abre

Você que não sabe escrever
que seu corpo e seu sangue me contem a história do país
fale


Seria ilusão do arco-íris
ser seu
deste corpo mutilado

Lerei os livros ao inverso
para ler melhor em seu rosto um campo de flores

Falarei a língua dos bosques e da terra
para entrar na multidão que se rebela

Desembarcarei nas feridas de sua memória
e habitarei seu corpo que se cala
Anunciaremos juntos a primavera às crianças desamparadas

Anunciaremos o sol moribundo ao astro que se esvazia
Anunciaremos uma nova vida à montanha anônima que avança

Enquanto eles tratam de sua burocracia
dançam e pisoteiam as costas de homens e mulheres
riem e comem o fígado das mães em luto
Devolveremos a besta desfigurada aos arquivos ministeriais

A história não intenta mais mudar
agarra-se às fibras da morte
e preside a sessão de abertura no abatedouro da cidade

Nossa história é um território de pragas que interrompe uma primavera de euforia

Lembre-se
semeávamos esperança pelos campos
retornávamos à cidade com a terra grávida

descobríamos as árvores selvagens prontas a tocar o céu
e os milhares de voluntários a conduzir o país ao cume solar

acreditávamos na aurora próspera
que atendia ao chamado das crianças
a rua dançava em nossos braços
esquecíamos que a luz podia criar uma alma estranha
inebriávamo-nos ao fogo para contemplar melhor o brilho do céu

Agora, cidade e o céu estão decompostos
o sonho estilhaçado derrama sua pena nas ruelas ermas

A esperança do povo está na espera:
longas sextas-feiras
para tomar vinho
para fumar kif
comendo vermes
sob o testemunho do sol

os outros
mãos e sexos corrompidos
jogam poker apostando nossa memória,
que se esvanece
(nossa memória repousa)

Povo,
minha cabeça está pesada
é carniça
fede o verbo
e, enfim, tomba

Entrego-a
à víbora maldita

nossa loucura
nossa cólera
Envoltas na maldição da serpente.”

(in Cicatrices du soleil / Cicatrizes do sol)

(trad. joão monteiro)

foto: Michel Giliberti ("porta azul")

José Roberto Monteiro

Pena

Dá pena
da pena
que mancha com tinta
só manche, não sinta
a cor do papel
dourada, pequena
calada, consinta
trilhar um caminho
não dela
mas meu

domingo, 26 de junho de 2011

sábado, 25 de junho de 2011

Francesco Petrarca / Liszt

"Sonetto 104 [Soneto a Laura]

Pace non trovo, e non ho da far guerra;
E temo e spero, ed ardo e son un ghiaccio;
E volo sopra 'l cielo e giaccio in terra;
E nullo stringo, e tutto il mondo abbraccio.

Tal m'ha in prigion, che non m'apre, né serra;
Né per suo mi riten, né scioglie il laccio;
E non m'ancide Amor, e non mi sferra;
Né mi vuol vivo, né mi trae d'impaccio.

Veggio senz' occhi; e non ho lingua e grido,
E bramo di perir, e cheggio aita;
Ed ho in odio me stesso ed amo altrui:

Pascomi di dolor, piangendo rido;
Equalmente mi spiace morte e vita:
In questo stato son, Donna, per Vui."

(in Canzoniere)


"Soneto 104

Não encontro paz, e não me interessa a guerra,
E temo e espero, e ardo e sou gelo;
E voo sobre o céu, jazendo na terra;
E nada retenho, e todo o mundo abraço.

De tal modo estou aprisionado, que não me abro nem fecho;
Nem me reténs nem desatas o laço;
E nem me matas, Amor, nem me desarmas;
Nem me queres vivo nem te incomodo;

Vejo sem olhos; não tenho língua, embora eu grite,
Desejo perecer e, contudo, suplico ajuda;
E me odeio, amando os outros;

Nutro-me de dor, chorando rio;
Para mim, são igualmente irrelevantes morte e vida:
Estou neste estado, Amada, por Ti."

(trad. joão monteiro)


Franz Liszt (1811-1886), compositor húngaro, escreveu três peças para piano (também há canções originais) baseadas nos Sonetos n. 47, 104 e 123 de Francesco Petrarca (1304-1374), que integram a seguda série (Itália) do ciclo de obras intitulado "Anos de Peregrinação".

imagem: "Petrarca e Laura", obra de Nicaise de Keyser (1813-1887)

Sonetto 104 del Petrarca (por Alfred Brendel):


Pier Paolo Pasolini

"III.

Quando è più duro vivere
la vita è più assoluta?
Sulle serali rive
dei sensi muti è muta

la vecchia ragione
in cui mi riconosco:
è un corso interiore
un sordo sottobosco

dove tutto è natura.
Faticoso travaglio
del sussistere oscuro

solo tu sei necessario...
E mi travolgi piano
oltre il confine umano."

(poesiole notturne, 1952-1953)


"Quanto mais dura a vida,
mais absoluta?
Sobre as margens vespertinas
dos sensos mudos, é muda

a velha razão
na qual me reconheço:
um bosque surdo interior,
meu percurso

onde tudo é natureza.
Cansativa e obscura labuta
do subsistir

apenas você é necessário
E me envolve docemente
para além dos confins humanos."

(trad. joão monteiro)


Pasolini era um artista humanista completo, não apenas exímio cineasta.

Balada para un loco (H. Ferrer / A. Piazzolla)



cantora: Amelita Baltar

(Recitado)
Las tardecitas de Buenos Aires tienen ese que sé yo, viste?
Salgo de casa por Arenales, lo de siempre en la calle y en mí...
Cuándo, de repente, detrás de un árbol, se aparece él.
Mezcla rara de penúltimo linyera
y de primer polizonte en el viaje a Venus.
Medio melón en la cabeza,
las rayas de la camisa pintadas en la piel,
dos medias suelas clavadas en los pies
y una banderita de taxi libre levantada en cada mano.
Parece que solo yo lo veo,
Porque él pasa entre la gente y los maniquíes le guiñan,
los semáforos le dan tres luces celestes
y las naranjas del frutero de la esquina
le tiran azahares.
Y así, medio bailando y medio volando,
se saca el melón, me saluda,
me regalo una banderita y me dice:

(Cantado)
Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
No ves que va la luna rodando por Callao,
que un corso de astronautas y niños, con un vals,
me baila alrededor... ¡Bailá! ¡Vení! ¡Volá!
Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
Yo miro a Buenos Aires del nido de un gorrión
y a vos te vi tan triste... ¡Vení! ¡Volá! ¡Sentí!...
el loco berretín que tengo para vos.
¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Cuando anochezca en tu porteña soledad,
por la ribera de tu sábana vendré
con un poema y un trombón
a desvelarte el corazón.
¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Como un acróbata demente saltaré,
sobre el abismo de tu escote hasta sentir
que enloquecí tu corazón de libertad...
¡Ya vas a ver!

(Recitado)
Y así diciendo, el loco me convida
a andar en su ilusión super-sport
Y vamos a correr por las cornisas
¡con una golondrina en el motor!
De Vieytes nos aplauden: "¡Viva! ¡Viva!",
los locos que inventaron el Amor,
y un ángel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.
Nos sale a saludar la gente linda...
Y loco, pero tuyo, ¡qué sé yo!:
provoca campanarios con su risa,
y al fin, me mira, y canta a media voz:

(Cantado)
Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Trepate a esta ternura de locos que hay en mí,
ponete esta peluca de alondras, ¡y volá!
¡Volá conmigo ya! ¡Vení, volá, vení!
Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Abrite los amores que vamos a intentar
la mágica locura total de revivir...
¡Vení, volá, vení! ¡Trai-lai-la-larará!

(Gritado)
¡Viva! ¡Viva! ¡Viva!
Loca el y loca yo...
¡Locos! ¡Locos! ¡Locos!
¡Loca el y loca yo


"Balada para un loco", exatamente na interpretação de Amelita Baltar, tornou-se o grande hino porteño do século XX.

NOTA: Alguns termos da letra de Horacio Ferrer são expressões lunfardas (lunfardo). Por isso, pode ser que não as encontrem em um dicionário latino-hispânico comum:
1. linyera: vagabundo, que flana pelas ruas sem recursos de subsistência;
2. piantao: loco;
3. berretín: desejo, capricho.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Itinerario de un viaje (excerto)

dos noches
dos días

señeros
y ventanillas

sueños
y y'ormeño




LIMA - QUITO (40h):

Estudos Brasileiros para piano

Em 2001, escrevi dois Estudos para piano, intitulados "Homenagem a José Vieira Brandão" (Estudo n. 1) e "Homenagem a Heitor Villa-Lobos" (Estudo n. 2). Essas peças integram o ciclo de "Estudos Brasileiros" para piano, que, felizmente, tive já a oportunidade de exibir em alguns recitais.

Àqueles que desejarem conhecer as peças, preparei um arquivo de áudio (.wav) com esses dois trabalhos, no LINK:

http://www.megaupload.com/?d=FAJ67MEI


Carlos Frias de Carvalho

"cada instante

cada instante
é uma gota
que se entorna
pelo caminho

ou se sorve
com a sede
de quem vai
contra o destino."


(in luz da água, ed. arcádia, 2010, Lisboa)

Stroszek (Werner Herzog)


Filme fabuloso (1977), na minha opinião, é a obra-prima do grande cineasta alemão Werner Herzog. Narra a saga de Bruno Stroszek: liberado da prisão, conhece Eva, uma prostituta. Juntos, viajam aos Estados Unidos, "terra dos sonhos", para tentar a sorte.



Trailer:

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Eugenio Montale (2)


"LA FELICITÀ


Ieri sentii che l'inverno mi aveva
riservato una sorpresa lieta.
Svelavi ad alta voce i miei pensieri.
- E se la vita fosse un mistero vano?
- Resta nel tuo esilio, non essere crudele
verso quel vago senso di speranza
che a noi, solo, rimane. Ben altro
è la felicità. Esiste, forse,
ma non la conosciamo."

(diario postumo)





"A felicidade

Ontem, senti que o inverno me havia
reservado uma amável surpresa.
Parecia revelar, em voz alta, meus pensamentos.
- E se a vida fosse um vão mistério?
- Fique em teu exílio, não sejas cruel
com o exíguo filo de esperança
que, a nós, apenas resta. Bem diferente
é a felicidade. Existe, talvez,
mas não a conhecemos."

(trad. joão monteiro)



Diário postumo representa um conjunto de 84 poemas deixados por Montale à sua amada Annalisa Cima.

Eugenio Montale


"Mortali

Noi non abbiamo cognizione
della futurizione.
La nostra previsione è limitata.
Quanto al libero arbitrio
farei qualche eccezione.
Non vi è biforcazione, ma
percorso obbligato."

(diario postumo)






"Mortais

Não temos o dom
da adivinhação.
O nosso poder de previsão é limitado.
Quanto ao livre arbítrio,
faria uma exceção.
Não há alternativas, mas
jornada obrigatória".

(trad. joão monteiro)

Adoro Eugenio Montale, poeta italiano (1896-1981), que, com Salvatore Quasimodo e Giuseppe Ungaretti, representa o que há de melhor na poesia hermética italiana.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Fado de uma gota d'água


sonhei orvalho













já fui garrafa



















tombei goteira


Sem eira nem beira

SEM EIRA




NEM BEIRA












Eira: “terreno liso e duro usado para debulhar, trilhar, secar e limpar legumes e cereais” (fonte: Aulete).

Beira: onde habitamos.

Nota: em tese, “beira”, no adágio popular, refere-se à beirada destinada a impedir, nas eiras, o escape dos legumes e dos cereais postos na secagem.

2ª Semana Gênero e Direito

Evento jurídico, realizado entre os dias 27 e 30 de junho, promovido na Universidade de Brasília – UnB, que trará painéis de debate sobre temas atualíssimos e prementes na sociedade brasileira.

PAINEL I
Cidadania, direitos humanos e tráfico de pessoas
PAINEL II
Estupro não tem graça: repensando o simbolismo do humor
PAINEL III
Os desafios para o enfrentamento da violência doméstica contra as mulheres no DF
PAINEL IV
Existe um direito à prostituição? A linha tênue entre a liberdade e a violência
PAINEL V
O combate à homofobia: em busca do direito colorido

Conheça esta luta!
Facebook.com/generoedireito

INSCRIÇÕES GRATUITAS:
plpunb@gmail.com

APOIO E REALIZAÇÃO:
PLP
CADIR UNB
PET DIREITO UNB
FENED

DICA gastronômica (Rei do Glúten)

Hoje, almocei no Restaurante “Rei do Glúten – Sabor Natural”, que frequento assiduamente. Na minha opinião, é o melhor Restaurante de Brasília e, por coincidência, é também vegetariano.
Não sou vegetariano, mas sou entusiasta. O Restaurante, tradicionalíssimo (funciona há décadas), está situado na 411 Sul (bloco “D”), capitaneado pelos amáveis Sr. Manoel e D. Norma, sempre presentes: Sr. Manoel, na balança do buffet, D. Norma, no caixa. Funciona todos os dias apenas para almoço (fechado aos sábados).

Àqueles que não primam pela ingestão de glúten, não se preocupem, há diversas opções (self-service) livres da famigerada proteína. Todos os vegetais são orgânicos; a maioria, cultivada pelos próprios proprietários do local. Há sempre boas opções de pratos quentes, que, com ou sem cereais, com certeza nutrirão melhor seu dia!

O que o “Rei do Glúten” tem de tão especial, para eu o enumerar como o melhor restaurante de Brasília?
Personalidade (no sentido estrito do termo: pessoalidade), coisa difícil de encontrar nas comidinhas que servem por aí. Quem ainda não conhece, não sabe o que está perdendo.

Música brasileira romântica para piano

Há uma novidade no post "CD - Confidência", piano solo

piano, joão monteiro

Agora, o arquivo integral do disco está disponível para Download.

A todos os amantes da música erudita, espero que usufruam dessa nossa oferta!

LINK no endereço:
http://www.megaupload.com/?d=Q2RSFAWM

terça-feira, 21 de junho de 2011

Umar-i Khayyām

“Quando for afrontado pela hora da morte,
Arrancado pela raiz da esperança da vida,
Do barro, meu abrigo, moldem uma jarra,
Enchendo-a com o vinho, ressuscitarei de novo.”

“Somos marionetas conduzidas pelo céu,
Não duvides da verdade desta estrofe.
Brincamos até nos permitir o céu,
Depois ficamos arrumados na caixinha”.

“Bebe vinho, somente ele dissipa aflições,
Deixando perturbada a alma do inimigo.
De que serve estar sóbrio? - A sobriedade é a fonte dos pensamentos vãos,
Tudo neste mundo passa sem deixar rastro”.

(rubā’iyat, trad. Halima Naimova)

Umar-i Khayyām, poeta e astrônomo persa (1.048 - 1.132, d.C.), autor de uma poesia fulgurante e ousada, cuja leitura influenciou, entre outros, Fernando Pessoa. “Rubā’iyat” é o plural (coletivo) de “ruba’i” (quadra, ou quarteto).

1º Concurso Heitor Villa-Lobos


O 1º Concurso de Piano Heitor-Villa Lobos, promovido pelo Núclelo de Piano da Escola de Música de Brasília/DF (entre os dias 13 e 17 de junho de 2011), teve um grande desfecho nesta última sexta-feira, com performances dos pianistas vencedores.

Na segunda-feira (abertura), o destaque foi para SOLEDADE ARNAUD (pianista, professora e coordenadora do evento), que, solando Mozart, deixou evidente a sua fluidez recitativa e a sua generosidade músico-camerística com o grupo orquestral (ArtBrasília), dignos de uma GRANDE musicista.

Como pianista e orgulhoso ex-professor da Escola, espero ansiosamente as edições futuras.



Fonte da imagem e maiores informações (como a lista dos premiados), vejam o link "Notícias" no sítio:
http://www.emb.com.br/portal/

O Cachorro (Carlos Sorin)


Obra rara, verdadeira pérola do cinema latino-americano, que, em 2004, consagrou Carlos Sorin, que, até então, já havia rodado outra preciosidade: "Histórias Mínimas" (2002). A atuação protagonista de Juan Villegas é arrebatadora. Juan Villegas também é autor. Infelizmente, não tenho notícia da distribuição comercial de filmes dele no Brasil.

"O Cachorro" (El Perro) é fácil de encontrar: acho que tem até na blockbuster.
"História Mínimas" foi distribuído no Brasil, mas já é mais difícil encontrá-lo.



De qualquer modo, nem tudo está perdido. Tenho MUITO acervo de cinema argentino (inclusive do Villegas), buscado lá na fonte e, quem sabe um dia, poderemos organizar um Encontro cinéfilo latino-americano.

O cinema poesia é pura argentina.







Trailer dos filmes:



Música contemporânea: para percussão e celesta

Concerto do Grupo K-TZ, integrado pelos percussionistas: Carlos Tort, Francisco Abreu, João Catalão e Luciano Zampar.

Execução do Quinteto para Percussão e Celesta, de Carlos Tort
celesta: joão monteiro

Estreia mundial na Sala Martins Penna do Teatro Nacional, em 6 de agosto de 2008, na série "Orquestra em Câmera":



Quem quiser conhecer mais sobre a celesta, um simpático instrumento de percussão com teclado:


Béla Bartók (1881-1945), importantíssimo compositor húngaro do século XX, escreveu uma obra-prima: Música para cordas, percussão e celesta, recomendo a todos que ainda não a conhecem (vocês não sabem o que estão perdendo).

segunda-feira, 20 de junho de 2011

obediência

sou um cão

obediente

esboço de vertigem (2)

José Paulo Paes (2)




"Se queres te sentir gigante, fica perto de um anão.
Se queres te sentir anão, fica perto de um gigante.
Se queres te sentir alguém, fica perto de ninguém.
Se queres te sentir ninguém, fica perto de ti mesmo."

(fenomenologia da humildade in Socráticas)

José Paulo Paes


"A minhoca cavoca que cavoca
Ouvira falar da grande luz, o Sol.
Mas quando põe a cabeça de fora,
a Mão a segura e a enfia no anzol".

(teologia in Socráticas)

Incômodos (Esteban Menis)



Na última quarta-feira (dia 15.6.11), extraí os meus sisos. Segundo o Dr. Antônio Carlos Quintão – excelente cirurgião responsável pela operação dentária (recomendo com ênfase aos candidatos à perda de juízo) –, sou um homem de sorte, dotado apenas dos dois sisos superiores. Para mim, esse “privilégio da natureza” era irrelevante porque, com dois-quatro-seis-oito-dez sisos (que fossem), estava decidido a iniciar a empreitada, inebriado (salve 'anestesia!).

Enfim, esse intróito destina-se apenas a relatar que, além do respeito tributado às maravilhas que um grande cirurgião-dentista pode operar em nossas vidas, há um filme ESPETACULAR, que merece atenção: INCÔMODOS (incómodos), do argentino Esteban Menis (2008).




Roteiro bom, personagens interessantes, comicidade dramática de altíssima qualidade, e todos os outros positivos atributos do grande cinema argentino contemporâneo.

Nicolás, Alfred e Abril viajam a Miramar, reduto balneário argentino, com intenções distintas.
Nicolás pretende lançar ao mar as cinzas funerárias do seu avô e aproveita o percurso para uma “escala de reconciliação” (sem sucesso) com sua ex-namorada (Paula).
Alfred participará (solo) de um concurso de dança. Nesse evento, concorrerá com um trio de bailarinos que o havia descartado antes da competição.
Abril visitará a família, após oito anos.
Todos os três protagonistas são personagens solitários e reprimidos, vivem em mundos particulares, inóspitos. Não obstante, a sua patética trajetória (viagem a Miramar) é entrecortada por intervenções delicadas, inseridas para tensionar a rotina medíocre de suas vidas.
Exemplos dessa intervenção:
I. Auxílio de uma freira no conserto do veículo, parado na rodovia com problemas mecânicos.
II. O furto de um pinheiro natalino, que Abril levava de presente à família (apesar de o Natal estar, àquela altura, ainda distante).
III. Sequências MUITO engraçadas tomadas no hotel e no início da estadia em Miramar, como III.I a “receptividade” de uma ranzinza senhora recepcionista (que também coordena o concurso de dança), III.II um restaurante decadente, sem opções de cardápio disponíveis, III.III um giro turístico bem peculiar, guiados por um orgulhoso cidadão de Miramar, que não poupa esforços para enaltecer o potencial econômico da cidade (em franca decadência), etc.
Tudo costurado com maestria por Menis, num ambiente de imagens infantilizadas (cheias de significado), com recurso preponderante de cores primárias, que ressaltam a dificuldade de os personagens (patéticos) adequarem-se aos desafios de um mundo adulto demais, indiferente às suas percepções sensíveis.

E agora, vocês se perguntam: o que “Incômodos” tem a ver com os meus sisos e com a técnica apurada do Dr. A. C. Quintão?

Explico. Inicia-se o filme com o retrato das dificuldades de Nicolás em aceitar a famigerada extração dentária.

Extrair o siso é perder o juízo. Às vezes, a vida apenas se torna suportável sem o siso. No meu caso, os sisos haviam iniciado um processo lento e doloroso de morte, começando por tecidos moles da boca, como as bochechas (calejadas de juízo). Eu, precavido, mandei-lhes à lixeira (1); ainda não estou descartável, como não são descartáveis os adoráveis personagens de Incómodos.

Notas:
1. Sim, eu me preocupei com as pesquisas sobre células-tronco (http://revistavivasaude.uol.com.br/saude-nutricao/91/artigo189637-1.asp)! A doação não foi possível (motivos técnicos: especificidades na conservação do “material”).
2. IMPORTANTE: trailer do filme:



3. ALFRED, esse adorável personagem:

domingo, 19 de junho de 2011

Orides Fontela

"Mesclados: o mel
e o mal

a vida: madura
impura

doces-podres
bagos

em que o gozo do mel
inclui o mal

em que o gosto
de podre
aguça o fruto".

(Uvas, in alba)

Mario Benedetti

"Quién me iba a decir que el destino era esto.

Ver la lluvia a través de letras invertidas,
un paredón con manchas que parecen prohombres,
el techo de los ómnibus brillantes como peces
y esa melancolía que impregna las bocinas.

Aquí no hay cielo,
aquí no hay horizonte.

Hay una mesa grande para todos los brazos
y una silla que gira cuando quiero escaparme.
Otro día se acaba y el destino era esto.

Es raro que uno tenga tiempo de verse triste:
siempre suena una orden, un teléfono, un timbre,
y, claro, está prohibido llorar sobre los libros
porque no queda bien que la tinta se corra".

(Angelus, in Poemas de la oficina)

o do contra


(acorde minguante)

Luiza Neto Jorge

“O ar
é a casa mais alta
– a mais rica –
desta aldeia”

(Terra imóvel,

Luiza Neto Jorge)

Divulgação: Concerto imperdível


Gilberto Tinetti é uma sumidade do piano. Orgulho-me muito de ter sido seu aluno na ECA/USP. Quem puder, não deixe de ir ao concerto!

esboço de vertigem

CD - Confidência




DOWNLOAD do disco no LINK:

http://www.megaupload.com/?d=Q2RSFAWM

Autores românticos brasileiros:
piano, joão monteiro

Alberto Nepomuceno (1864-1920)
1. Folha d'álbum
2. Noturno op. 33
3. Improviso op. 27, n. 2
Leopoldo Miguez (1850-1902)
4. Noturno op. 10
Henrique Oswald (1852-1931)
5. Cançoneta op. 20
6. Noturno op. 14, n. 5
7. Confidência op. 13
Celso Pacheco (1941)
8. Improviso n. 3
Carlos Gomes (1836-1896)
9. Quadrilha
10. Quem sabe?!

flor paceña

pétala passageira

gole efêmero

flor em paz

vida paceña

variações sobre um tema de galinha


lições infantis de trânsito
















minha cidade
tem zebrinhas
que vão
pra lá e pra cá

mas as listras
estão na pista
pra gente
pisar

...

a velocidade
mata
mais velozmente
que a idade

...

quando eu crescer,
vou conhecer
a cidade
sóbrio

como ainda não cresci,
ando de ônibus
embriagado

...

olhe
antes de cruzar
atravesse
antes de cruzar
o próximo

...

proibido estacionar
libido
é coisa de adulto

(acorde minguante)

minguância

a
lata
no
atoleiro
m'
entola
me
late

ladra
pena

d
e
s
c
a
r
t
e

a-
penas
o
cão-
vira
-lata
me
abana
o
rabo

(acorde minguante)


"você não sabe o que está perdendo - respondeu o cego"

"Contou-me um pintor...
Visitei um cego, ao meio-dia de uma certa tarde, e, encontrando-o sozinho em plena escuridão, não me contive e lhe perguntei como suportava viver sem ver a luz. Respondeu-me: você não sabe o que está perdendo."
(ébauches de vertige, E. M. Cioran, trad. livre / joão monteiro)

ave(,) maria

7 Movimentos em forma de caos

http://musica.terra.com.br/noticias/0,,OI635627-EI1267,00-Pianista+estreia+musica+feita+para+vitimas+do+tsunami.html

cabeceira de papel

A cômoda do quarto é a caixa vazia.
A caixa vazia tinha a cômoda do quarto.
O cômodo vazio tem a caixa do quarto.
A caixa do quarto é o próprio cômodo vazio.
(gavetário)

Manuscrito


manuscrito de Chopin

Bem-vindos



Este é meu canto. Se quiserem cantar comigo, serão BEM-VINDOS!