Carta de novembro
Amor, o mundo
Muda de cor de repente. A luz da rua
Fende as vagens dos laburnos
Feito rabos de rato, às nove da manhã.
É o Ártico.
Este pequeno círculo
Negro, com seus gramados de seda amarela – cabelo de bebês.
Há um verde no ar,
Suave, deleitável.
Ele me envolve com carinho.
Estou corada e morna.
Acho que posso ser enorme,
Estou tão estupidamente feliz,
Minhas galochas
Chapinham e chapinham pelo vermelho, lindo.
Esta propriedade é minha.
Duas vezes por dia
Passeio por ela, cheirando
O azevinho selvagem com suas vieiras
Verde-azuis, de ferro puro,
E o muro de antigos cadáveres.
Eu os adoro.
Eu os adoro como história.
As maçãs são de ouro,
Imagine –
Minhas setenta árvores
Guardando suas bolas douradas e vermelhas
Num caldo mortal cinzento e espesso,
Milhões
De folhas de ouro, de metal, sem fôlego.
Oh, amor, oh, celibato.
Só eu
Caminho molhada até a cintura.
Os insubstituíveis
Tesouros sangram e afundam, as bocas das
Termópilas.
(in Ariel, 2. ed., trad. Rodrigo Garcia Lopes, Maria Cristina Lenz de Macedo, Campinas, Verus, 2010)
segunda-feira, 28 de julho de 2014
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Julio Cortázar (3)
A Colherada Estreita
(in Histórias de Cronópios e de Famas, Trad. Gloria Rodríguez, Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1977)
Um fama descobriu que a virtude era um micróbio e cheio de patas. Instantaneamente deu a beber a sua sogra uma grande colherada de virtude. O resultado foi horrível: esta senhora renunciou a seus comentários mordazes, fundou um clube para a proteção de alpinistas perdidos e em menos de dois meses se comportou de maneira tão exemplar que os defeitos de sua filha, inadvertidos até então, passaram ao primeiro plano para grande sobressalto e assombro do fama. Não teve outro remédio senão dar uma colherada de virtude a sua mulher, que o abandonou nessa mesma noite por achá-lo grosseiro, insignificante e completamente diferente dos padrões morais que flutuavam rutilando perante os olhos.
O fama refletiu largamente e afinal tomou ele próprio o frasco de virtude. Mas continuou da mesma maneira vivendo só e triste. Quando cruza na rua com a sogra ou a mulher, ambos se cumprimentam respeitosamente e de longe. Não ousam sequer se falar, tamanha é a sua perfeição respectiva e o medo que têm de contaminar-se.
(in Histórias de Cronópios e de Famas, Trad. Gloria Rodríguez, Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1977)
Julio Cortázar (2)
O Canto dos Cronópios
(in Histórias de Cronópios e de Famas, Trad. Gloria Rodríguez, Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1977)
Quando os cronópios cantam suas canções preferidas, ficam de tal maneira entusiasmados que frequentemente se deixam atropelar por caminhões e ciclistas, caem da janela e perdem o que tinham nos bolsos e até a conta dos dias.
Quando um cronópio canta, as esperanças e os famas acorrem a ouvi-lo embora não compreendam muito seu arrebatamento e em geral se mostram um tanto escandalizados. No meio da roda o cronópio suspende seus bracinhos como se segurasse o sol, como se o céu fosse uma bandeja e o sol a cabeça do Batista, de forma que a canção do cronópio é Salomé nua dançando para os famas e as esperanças que ali estão boquiabertos e perguntando-se se o senhor padre, se as conveniências.
Mas como no fundo são bons (os famas e as esperanças bobas) acabam aplaudindo o cronópio, que se recupera sobressaltado, olha em redor e começa também a aplaudir.
(in Histórias de Cronópios e de Famas, Trad. Gloria Rodríguez, Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1977)
Julio Cortázar
Instruções para Chorar
(in Histórias de Cronópios e de Famas, Trad. Gloria Rodríguez, Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1977)
Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.
Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas e nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca.
Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças chorarão esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos.
(in Histórias de Cronópios e de Famas, Trad. Gloria Rodríguez, Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1977)
Felisberto Hernández (4)
Domicilios espirituales:
El Dios de los católicos, es un Dios que está en el aire.
El diablo está especialisimamente en los buenos.
Los santos están en sus tareas.
Los ángeles han volado demasiadamente alto.
Los escritores están casi siempre en sus escritorios.
Los cultos están en todas partes.
Los bohemios están en el mundo.
Los héroes están embalsamados.
(in Fulano de Tal, Los libros sin tapas, Buenos Aires : El Cuenco de Plata, 2010)
El Dios de los católicos, es un Dios que está en el aire.
El diablo está especialisimamente en los buenos.
Los santos están en sus tareas.
Los ángeles han volado demasiadamente alto.
Los escritores están casi siempre en sus escritorios.
Los cultos están en todas partes.
Los bohemios están en el mundo.
Los héroes están embalsamados.
(in Fulano de Tal, Los libros sin tapas, Buenos Aires : El Cuenco de Plata, 2010)
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Horacio Molina
Tu pálida voz
(letra de Homero Manzi)
Te oí decir..adiós, adiós...
Cerré los ojos y oculté el dolor...
Sentí tus pasos cruzando la tarde
y no te atajaron mis manos cobardes.
Mi corazón, lloró de amor
y en el silencio resonó tu voz,
tu voz querida, lejana y perdida,
tu voz que era mía... tu pálida voz.
En las noches desoladas, que sacude el viento,
brillan las estrellas frías del remordimiento
y me engaño que habrás de volver otra vez
desatando el olvido y el tiempo.
Siento que tus pasos vuelven por la senda amiga.
Oigo que me nombras llena de mortal fatiga,
para qué si ya sé que es inútil mi afán,
nunca... nunca... vendrás.
Te vi partir, dijiste adiós,
temblé de angustia y oculté mi dolor.
Después, pensando que no volverías
traté de alcanzarte y ya no eras mía.
Mi corazón, sangró de amor,
y en el recuerdo resonó tu voz...
tu voz querida, lejana y perdida,
tu voz aterida, tu pálida voz.
(letra de Homero Manzi)
Cerré los ojos y oculté el dolor...
Sentí tus pasos cruzando la tarde
y no te atajaron mis manos cobardes.
Mi corazón, lloró de amor
y en el silencio resonó tu voz,
tu voz querida, lejana y perdida,
tu voz que era mía... tu pálida voz.
En las noches desoladas, que sacude el viento,
brillan las estrellas frías del remordimiento
y me engaño que habrás de volver otra vez
desatando el olvido y el tiempo.
Siento que tus pasos vuelven por la senda amiga.
Oigo que me nombras llena de mortal fatiga,
para qué si ya sé que es inútil mi afán,
nunca... nunca... vendrás.
Te vi partir, dijiste adiós,
temblé de angustia y oculté mi dolor.
Después, pensando que no volverías
traté de alcanzarte y ya no eras mía.
Mi corazón, sangró de amor,
y en el recuerdo resonó tu voz...
tu voz querida, lejana y perdida,
tu voz aterida, tu pálida voz.
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