sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Recital

Programação cultural. Casa Thomas Jefferson

http://www.thomas.org.br/servi%C3%A7os/agenda-cultural.aspx?an=2011&me=09#10168

Em 30/09/2011

RECITAL DE PIANO
Piano brasileiro: três séculos de música
piano, João Monteiro

Horário: Sexta-feira, 30 de setembro, 20 horas
Local: Casa Thomas Jefferson - Asa Sul - SEP Sul 706/906
(entrada franca)

Mario Benedetti (3)

PIANO

Cuando hace cinco años
se hundió aquel barco tan seguro
con cincuenta pasajeros y un piano steinway
los cincuenta se ahogaron sin remedio
pero el piano en cambio logró sobrevivir

a los tiburones no les gustan las teclas
así que el steinway esperó tranquilo

ahora cuando pasan
siempre que sea de noche
barcos de turismo o de cabotaje
suele haber pasajeros de fino oído
que si el eterno mar está sereno
o mejor serenísimo
perciben atenuados
y sin embargos nítidos
acordes de brahms o de mussorsky
de albeniz o chopin

y luego un golpecito
al cerrarse la tapa

(in El mundo que respiro, Seix Barral / Planeta, Buenos Aires, 2001)

Orides Fontela (4)

ONDE A FONTE?

Onde
a fonte?

Secas mãos conchas
plasmam-se
receptivos leitos
a seu fluxo

Vasos aguardam
pacientes.

Onde a
fonte? Na sede
um frescor nascituro
se acentua.

(in Helianto, 1973)
(in Poesia Reunida, Cosac & Naify, 2006)

José Paulo Paes (5)

ODE AOS DILUIDORES


invenção
co-invenção
convenção

(in Poesia completa, Companhia das Letras, São Paulo, 2008)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Manoel de Barros

CADERNO DE APRENDIZ

2

Invento para me conhecer.

4

Escrever o que não acontece é tarefa da poesia.

7

Sou beato de ouvir a prosa dos rios.

8

Para cantar é preciso perder o interesse de informar.

13

Eu sempre guardei nas palavras os meus desconcertos.

14

Eu sustento com palavras o silêncio do meu abandono.

23

Tenho o privilégio de não saber quase tudo.
E isso explica
o resto.

27

Eu vivo no meu relento.


(in Menino do mato, Leya, São Paulo, 2010)

e. e. cummings (2)

silence

.is
a
looking

bird:the

turn
ing;edge,of
life

(inquiry before snow


silêncio

um
pássaro

lhando:a

vir
ada;canto,da
vida

(inquérito antes da neve


(in O tigre de veludo, trad. Maurício Cardozo, Ed. UnB, 2007)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Gilberto Mendonça Teles

FALAVRA

J'ai une maladie: je vois le langage.
(Roland Barthes)

I

Ainda sei da fala e sei da lavra
e sei das pedras nas palavras ásperas.
E sei que o leito da linguagem leixa
pedregulhos na letra.

É como o logro
da poeira na louça ou como o lixo
nos baldios do livro.

Ainda sei da língua e sei da linha
do luxo e suas luvas, amaciando
os calos e os dedais.

E sei da fala
e do ato de lavrá-las na falavra.


(in Poemas, org. Luiz Busatto, ed. Global, São Paulo, 1994)

Michel Deguy

MOUVEMENT DE MONDE...

Et comment va la vie qui n'est pas éternelle?
Il y eut la clarté Il y eut l'énigme
Puis ce fut

Il y eut l'énigme. Il y eut la clarté
Être parut cela
Il y eut l'énigme il y eut la clarté
Puis fut la terre au centre de la table

Qui sinon ce sera la force des faibles?


MOVIMENTO DE MUNDO...

E como vai a vida que não é eterna?
Houve a claridade Houve o enigma
E então foi feito

Houve o enigma. Houve a claridade
Ser veio a ser isto
Houve o enigma houve a claridade
E então fez-se a terra no centro da mesa

Quem senão será a força dos fracos?

(in A Rosa das Línguas, org. e trad. Paula Glenadel e Marcos Siscar. Cosac & Naify, São Paulo, 2004)

Yosano Akiko (2)

súbito em volta
há flores nenhuma cor
nem primavera
deus do questionamento
deus da desconfiança

(in Descabelados, trad. Donatella Natili e Álvaro Faleiros, UnB, 2007)

Lucian Blaga (3)

De profundis

Încǎ un an, o zi, un ceas –
şi drumuri toate s-au retras
de sub picioare, de sub pas.
Încǎ un an, şi-un vis, şi-un somn –
şi-oi fi pe sub pǎmînturi domn
al oaselor de drept dorm.

De profundis

Mais um ano, um dia, um instante –
e as vias que via adiante
Somem de sob meu passo errante.
Mais um ano, um sonho, outro sono –
e sob a terra serei dono
dos ossos que dormem em torno.


(in A grande travessia, trad. Caetano Waldrigues Galindo, Ed. UnB, Brasília, 2005)

sábado, 3 de setembro de 2011

Cecília Meireles


Mimetismo

O sábio no jardim sorria
do artifício da borboleta
convertida em folha amarela
até com manchas e defeitos.

O sábio sorria daquela
mentira. Ó colorido embuste!
Ó fingimento desenhado
por cegos presságios e sustos!

Para salvar seu breve tempo,
- tempo de inseto! - dom dos vivos,
tinha a borboleta bordado
seu sigiloso mimetismo.

(Atrás das máscaras, que morte
pode alcançar o oculto pólo
sensível, no pulsante abismo
onde a hora do existir se acolhe?)

(in O Estudante Empírico, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2005)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Programação cultural. Casa Thomas Jefferson

Em Setembro de 2011, a Agenda Cultural da Casa Thomas Jefferson, em Brasília, terá cinco sextas-feiras dedicadas à música erudita:

http://www.thomas.org.br/servi%C3%A7os/agenda-cultural.aspx?an=2011&me=09#10168

Em 30/09/2011

RECITAL DE PIANO
Piano brasileiro: três séculos de música
piano, João Monteiro

Horário: Sexta-feira, 30 de setembro, 20 horas
Local: Casa Thomas Jefferson - Asa Sul - SEP Sul 706/906
(entrada franca)

Ferreira Gullar (2)


PERPLEXIDADES

a parte mais efêmera
de mim
é esta consciência
de que existo

e todo o existir consiste nisto

é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo
e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de meu cabelo

e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fulgindo no presente do passado


(in Em alguma parte alguma, José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 2010)