terça-feira, 24 de junho de 2014

Musgo em ramos


Yosano Akiko (3)


                         sob os pinheiros

    nós        de novo um encontro

                           só      eu e você

        destino        por acaso     ou               

       será  um  deus  que nos uniu

*

                         vogava  a  mente

   que  você            me   esperava

                          pressentimentos

   saí por campos           em   flor  

            seria  noite           de luar

*

                     nós        ignoramos

            qual   seria   o   caminho

                       futuro   ou   fama

       aqui       amados     amando

              apenas  nós      olhamos


(in Descabelados, trad. Donatella Natili e Álvaro Faleiros, UnB, 2007)

Sur l'esclavage


quinta-feira, 12 de junho de 2014

desvarios


                                                                                          desvarios


                                               encantam-me as belezas inexatas
                                                               (a unanimidade assusta)

                                               surpreendem-me as janelas entreabertas
                                                               (às escâncaras venta muito)

                                               convidam-me os lugares vazios
                                                              (os cheios estão cerrados)

                                               o domínio é menos interessante
                                                               que o extravio

o segredo é mais revelador
                                                               que a descoberta
 
                                               as certezas encerram inconstâncias
                                                               (menos certeiras que os desvarios)

 

estação


                                               estação
 
                                               A parte mais importante da viagem
                                               não é a chegada ao destino,
                                               são as paragens. 
 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Federico García Lorca


La monja gitana
A José Moreno Villa


Silencio de cal y mirto.
Malvas en las hierbas finas.
La monja borda alhelíes
sobre una tela pajiza.
Vuelan en la araña gris,
siete pájaros del prisma.
La iglesa gruñe a lo lejos
como un oso panza arriba.
¡Qué bien borda! ¡Con qué gracia!
Sobre la tela pajiza,
ella quisiera bordar
flores de sua fantasía.
¡Qué girasol! Qué magnolia
de lentejuelas y cintas!
¡Qué azafranes y qué lunas,
en el mantel de la misa!
Cinco toronjas se endulzan
en la cercana cocina.
Las cinco llagas de Cristo
cortadas en Almería.
Por los ojos de la monja
galopan dos caballistas.
Un rumor último y sordo
la despega la camisa,
y al mirar nubes y montes
en las yertas lejanías,
se quebra su corazón
de azúcar y yerbaluisa.
¡Oh!, qué llanura empinada
con veinte soles arriba.
¡Qué rios puestos de pie
vislumbra su fantasía!
Pero sigue con sus flores,
mientras que de pie, en la brisa,
la luz juega el ajedrez
alto de la celosía.    
 
*
A monja cigana
A José Moreno Villa


Silêncio de cal e murta.
Malvas sobre tênues campos.
A monja borda alelis
no tecido palhiço.
O lampadário já sem cor         
sete pássaros irradia.  
Da igreja, ecoam roncos distantes
como um urso saciado.
Como borda! Que capricho!
Sobre a palha,
bordaria flores,
esmero de sua fantasia.  
Que girassol! Que magnólia
de fitas e lantejoulas!
Que açaflores e que luas
ostenta o mantel da missa!
Com cinco cidras, preparam doce
em alguma cozinha das cercanias.  
As cinco chagas de Cristo
sangradas em Almeria.
Os olhos da monja
refletem dois cavalheiros clandestinos.  
Um último rumor surdo
desabotoa-lhe a camisa,
e ao mirar nuvens e montes
em campos distantes,
despedaça-se o coração 
de verbena e ternura. 
Oh, como erguem-se as planícies,
vinte sóis revelam-se acima!  
Exaltam-se os rios
brotados de sua fantasia!  
Segue porém com suas flores,
enquanto em pé, tateando a brisa,
a luz move as peças do tabuleiro
bem no auge da angústia infinda.   
 
(trad. João Monteiro)
(texto original extraído de Romancero gitano, Barcelona : Literaria, 2008)

sábado, 7 de junho de 2014

Guia de lojas (CDs e DVDs usados e novos)

Augusta Discos
Rua Augusta, n. 1.368, a duas quadras da Paulista (sentido Centro).
Tel.: (11) 2924-9296.

Discomania
Rua Augusta, n. 560.
Tel.: (11) 3257-2925.

Revivendo Discos e Livros
Rua Martins Fontes, n. 154 (três andares de loja).
Tel.: (11) 3214-4543.

Sampa Discos Ltda.
Av. São João, n. 572.

Stock Cultural
Rua da Consolação, n. 871 (em frente ao Mackenzie).
Tel.: (11) 2667-3570.

PromoSampa Discos e Livros Ltda.
Avenida São João, n. 556.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Uma vida comum (Still Life)

Uma pérola de filme. Sensível e delicado.
Comovente na medida certa.

Exclusivamente em cartaz no CineSesc:
Sexta a Quarta-feira, às 15h, 17h e 21h (confirme previamente o horário).

O trabalho de um homem é encontrar parentes mais próximos de pessoas que morreram sozinhas. Ao descobrir que perderá seu emprego, ele resolve se dedicar mais ainda ao último caso.

Gênero: Drama
Nome original: Still Life
País: Reino Unido/Itália/2013
Direção: Uberto Pasolini
Com: Eddie Marsan, Joanna Froggatt e Karen Drury
Duração: 87 minutos
Classificação: Livre

CineSesc

R. Augusta, 2.075 - Cerqueira César - Centro. Telefone: 3087-0500.
Aceita os cartões Amex, MasterCard, Visa. Ingresso: R$ 2 a R$ 20 (Cineclubinho: grátis).

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Música de Câmara (Teatro São Pedro)

MÚSICA DE CÂMARA
[8 de junho de 2014 às 11h00]

Gilberto Tinetti | piano

Solistas da Orquestra do Theatro São Pedro:
Ariel Ribeiro Sanches, Hugo Leonardo de Farias | Violinos
João Cláudio Miranda de Souza, Cléber Olivares de Albuquerque | Violinos II
Fábio Luis Rossini Schio, Diogo do Nascimento Guimarães | Violas
Fabrício Leandro Rodrigues, Boaz de Oliveira Silva | Violoncelos
Programa:

Johannes Brahms
Quinteto para Piano e Cordas em Fá Menor, Op. 34
I. Allegro non troppo
II. Andante, un poco adagio
III. Scherzo: Allegro
IV. Finale: Poco sostenuto
V. Allegro non troppo
VI. Presto non troppo

Gilberto Tinetti, piano | Convidado Especial

Felix Mendelssohn
Octeto para Cordas em Mi Bemol Maior, Op. 20
I. Allegro moderato, ma con fuoco
II. Andante
III. Scherzo: Allegro leggierissimo
IV. Presto

Horário
8 de Junho (domingo) às 11h

Endereço:
Rua Dr. Albuquerque Lins, 207 São Paulo – Metrô Marechal Deodoro
Tel. 11 3667.0499
636 lugares

Ingresso:
R$ 15,00 (inteira)

terça-feira, 3 de junho de 2014

Alphonsus de Guimaraes Filho (3)


                    SONETO DO AMOR FIEL


          Numa vida imperfeita, no imperfeito
          mundo – sozinhos e desenganados ,
          da afeição que ilumina iluminados
          como de um sol oculto em nosso peito,

          que em nós subitamente se levante
          a delicada, a matinal lembrança
          do que chama nos foi sendo esperança
          e hoje é nuvem pousada em céu distante.

          Flua de nossas almas luminosas
          serenidade, e em paz alimentemos
          o que o mundo tornou em rebeldia.

          Que o sentimento seja frágil rosa
          à beira de um abismo que não vemos,
          cegos de tanto respirar o dia...


 (in Poemas, Rio de Janeiro : Sette Letras, 1998)

Alphonsus de Guimaraens Filho (2)


                        ALADOS


          Vamos todos morrer alados
          como esses loucos voltados

          para seu próprio segredo
          Vamos morrer (não de medo)

          entre módulos, estreitas
          naves de asas suspeitas,

          acoplagens, sinais raros
          de outros mundos, anteparos

          contra nossa própria e triste
          solidão que nem existe.

          Que nem existimos: sós
          embora, amargos, nós

          vemos fugir nossos passos,
          nossas vozes, nossos traços,

          e sucumbimos aos poucos
          como bichos vãos e ocos

          num pouso instável pousados.

          Vamos todos morrer. Alados.


 (in Poemas, Rio de Janeiro : Sette Letras, 1998)

Alphonsus de Guimaraens Filho

                            
                      INVENTÁRIO


          De toda a vida passada,
          da vida recomeçada,
          da vida que de si nasce
          quando morre ou desfalece,
          trago esta peça de barro,
          esta flor murcha, este jarro,
          este caderno que aquece
          versos idos, faces idas,
          outras mortes, outras vidas.

          De tudo que em barafunda
          do passado vem e inunda
          de espanto meu ser perdido
          na confusão mais completa,
          mais completa e insatisfeita,
          trago este sonho vivido
          não sei quando, noutra parte
          deste mundo em que por arte
          dos deuses me encontro agora,
          eu próprio cinza e memória.


(in Poemas, Rio de Janeiro : Sette Letras, 1998)

Os sofrimentos do jovem Werther (J. W. Goethe)

21 de novembro

     Ela não vê, não sente que está preparando um veneno que haverá de nos destruir a ambos. E com volúpia sorvo o cálice que ela me oferece para perder-me. Por que o olhar bondoso que me lança tantas vezes – tantas vezes?, não, mas algumas vezes; por que a amabilidade com que acolhe as expressões involuntárias do meu sentimento, por que a compaixão que demonstra ao ver o meu sofrimento? 
 
     Ontem, ao nos despedirmos, ela me estendeu a mão e disse: "Adeus, querido Werther!" Querido Werther! Esta foi a primeira vez que ela me chamou de "querido", e senti-me estremecer. Repeti as palavras centenas de vezes, e ontem à noite, ao deitar-me, falando com os meus botões mil coisas, disse de repente: "Boa noite, querido Werther!" Depois, tive de rir de mim mesmo.
 
22 de novembro
 
     Não posso rezar: "Permiti que ela seja minha!" No entanto, muitas vezes, é como se ela me pertencesse. Não posso rezar: "Dai-a a mim!", porque ela é de outro. Sofismo a minha própria dor, e se não procurasse me controlar eu produziria uma ladainha de antíteses.
 
 
(in Os sofrimentos do jovem Werther, Trad. Marion Fleischer, São Paulo : Martins Fontes, 1998)

Mário Chamie (3)

ENGANOS DE AMOR
 
 
Não se engana
a si o amor
que não nos damos.
 
Engana o outro amor
que no outro já perdemos,
se de nosso amor
o outro amor
se afasta em prantos.
 
Só o amor engana
o outro amor
de nossos sonhos,
se o amor
do outro amor que temos
não sonha
o amor sonhado
que sonhamos. 


(in Horizonte de Esgrimas, Ribeirão Preto: Funpec editora, 2002)

Mário Chamie (2)

PÉROLA
 
A pérola
que o amado
deu a ela,
a amada fez
por perdê-la.
 
Perdendo
o que recebera,
o amado,
ao ver que nela
a pérola se desfizera,
perdeu seu amor
por ela.
 
 
(in Horizonte de Esgrimas, Ribeirão Preto: Funpec editora, 2002)

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Oração de São Francisco


Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó, Mestre, fazei com que eu procure mais
Consolar que ser consolado,
Compreender que ser compreendido,
Amar que ser amado,
Pois é dando que se recebe,
É Perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna.