sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Oceano,


esperamos que ninguém encontre esta garrafa. Que apenas sejam teus nossos segredos. Que mereçamos tuas bênçãos. Hoje, é o Dia dos Namorados chinês, queremos que nossa história dure para sempre, com uma vida longa e feliz. 
 
A você, que lê nossa mensagem, pedimos seu testemunho, seja cúmplice de nosso amor eterno: dois seres, dois corações e uma vida.

Mensagem encontrada em uma garrafa por Nicola e Lucy MacFarlene, mãe e filha, na praia de Portobello, na Escócia (agosto/12).

sábado, 18 de agosto de 2012

soneto

                                                                  soneto
                                                                                                  a Marina

                                                esta cessação do tempo
                                                não
                                                é lágrima vertida
                                                [espera

                                                momento único
                                                que inexistirá]
                                                aceno
                                                de despedida 

                                                a separação
                                                dos vértices
                                                [partida

                                                seria essa paragem]
                                                desespero da
                                                saudade?
 

sábado, 11 de agosto de 2012

Aglaja Veteranyi (2)


Estar morto é como dormir.

Só que você não deita o corpo na cama, mas na terra.

E aí você tem de explicar a Deus o motivo pelo qual prefere estar morto a estar vivo.

Quando não consegue convencê-lo, ele apaga o seu cérebro, e você tem de começar a vida outra vez.

Etc.
Etc. 
Etc.  
Etc. 
Etc.  
Etc. 


(in por que a criança cozinha na polenta? trad. Fabiana Macchi, São Paulo, DBA Artes Gráficas, 2004; p. 68)

Juan Ramón Jimenez (2)

 ÁRBOLES HOMBRES

   Ayer tarde,
volvía yo con las nubes
que entraban bajos rosales
(grande ternura redonda)
entre los troncos constantes.

   La soledad era eterna
y el silencio inacabable.
Me detuve como un árbol
y oí hablar a los árboles.

   El pájaro solo huía
de tan secreto paraje,
solo yo podía estar
entre las rosas finales.

   Yo no quería volver
en mí, por miedo de darles
disgusto de árbol distinto
a los árboles iguales.

   Los árboles se olvidaron
de mi forma de hombre errante,
y, con mi forma olvidada,
oía hablar a los árboles.

   Me retardé hasta la estrella.
En vuelo de luz suave,
fui saliéndome a la orilla,
con la luna ya en el aire.

   Cuando yo ya me salía,
vi a los árboles mirarme.
Se daban cuenta de todo
y me apenaba dejarles.

   Y yo los oía hablar,
entre el nublado de nácares,
con blando rumor, de mí.
Y ¿cómo desengañarles?

   ¿Cómo decirles que no,
que yo era sólo el pasante,
que no me hablaran a mí?
No quería traicionarles.


(in Antología poética, 16. ed., Cátedra, Madrid, 2006)

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Aglaja Veteranyi


EU SÓ ERA ALGUÉM ANTES DE NASCER.

Antes do meu nascimento, fui equilibrista de cabeça para baixo durante oito meses. Eu estava dentro da minha mãe, ela fazia espacato sobre a corda bamba e eu olhava para baixo ou me encostava na corda.
Um dia, ela não conseguiu mais se erguer do espacato, e eu quase caí.
Pouco depois, vim ao mundo.

(in por que a criança cozinha na polenta? trad. Fabiana Macchi, São Paulo, DBA Artes Gráficas, 2004; p. 32)


Romance ("por que a criança cozinha na polenta?") adaptado ao teatro em excelente montagem da Cia. Mungunzá:


sábado, 4 de agosto de 2012

práxis

[a Mário Chamie]

diria, 
se pudesse
dizer o que eu não posso

seria,
 se dissesse 
ser o que eu não digo

teria, 
se buscasse
ter o que eu não busco

poderia,
se fosse 
poder o que eu não sou

alopatia

a fuga
é teu sintoma mais frequente?

tome estas pílulas
que abreviarão a dor

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Nichita Stănescu (3)


Întrebări

Trăim un prezent pur?
A trai inseamna timp?
Timpul este tot ceea ce nu înţelegem?
Timpul este tot ceea ce nu suntem noi?
Există timp acolo unde nu este nimic altceva?
Timpul este fără să fie?
Timpul este însuşi Dumnezeu?
Inima mea bate în timp?
Sunetele, mirosurile,
pipăitul, gustul, vederea
sunt chipuri ale timpului?
Timpul este legat de lucruri?
Timpul este legat de cuvinte?
Gândurile sunt timp?
Timpul este însuşi Dumnezeu?
A fi, înseamnă timp?
A avea, înseamnă timp?
Ceasurile sunt bisericile noastre
de mână sau de buzunar,
de perete...
Ne rugăm luând cunoştinţa
de bataia lor înscrisă pe cadrane...

(1972)
...

Inquietações

Vivemos no presente?
Vida é tempo?
O tempo é tudo aquilo que não compreendemos?
O tempo é tudo aquilo que não somos?
Existe tempo onde não há coisas?
O tempo prescinde do ser?
Ou seria o próprio tempo um ser divino? 
Meu coração bate a tempo? 
Os sons, os cheiros,
o tato, o paladar, a visão
são expressões do tempo?
O tempo vincula-se às coisas?
Ou o tempo está mais às palavras?
Os pensamentos são tempo?
A ideia de Deus seria o tempo?
Tempo é ser?
Tempo é ter?
As horas são nossos altares
cativos ou passageiros,
inabaláveis...
As preces tomam corpo nas feridas
inscritas sob os ponteiros.

(1972)

(trad. joão monteiro)