sábado, 27 de julho de 2013

Friedrich Nietzsche [sobre a arte]


A arte, e nada além dela!

É apenas a arte que nos permite viver,
que nos persuade à vida.

A arte tem mais valor que a verdade.

**

Sem a música,
a vida seria um erro.


(in Pensamentos sobre a arte, textos escolhidos e apresentados por Comte-Sponville)

Marin Sorescu (3)

Fuga


Într-o zi
Mă voi ridica de la masa de scris
Şi voi începe să  mă îndepărtez de cuvinte,
De voi
Şi de fiecare lucru în parte.

Voi vedea un munte în zare
Şi voi merge spre el,
Până când muntele va rămâne în urmă.

Apoi mă voi lua după un nor,
Şi norul va rămâne în urmă.

Soarele va rămâne şi el în urmă,
Şi stelele, şi tot universul.

(Poeme, 1965)

**  

A fuga


Algum dia,
Deixarei a escrivaninha
Para iniciar meu distanciamento das palavras,
Das pessoas
E de tudo que houver em torno.

Avistarei um monte no horizonte
E caminharei nessa direção
Até que sua imagem seja apenas vestígio.

Em seguida, abarcarei as nuvens
Até que elas também se esvaiam.

Depois, o sol,
as estrelas e todo o universo serão apenas rastro.

(Poemas, 1965)

(trad. joão monteiro)

Marin Sorescu (2)


Otrăvuri 

Iarba, munţii, apele, cerul
Mi-au intrat în sânge
Şi-acum aştept
Să-şi facă efectul.

Simt că-nverzesc,
Din cauza ierbii.

Că mă umplu de prăpăstii
Şi de ceaţă,
Din cauza munţilor.

Că picioarele rotunjesc pe drum
Pietrele
Şi tot întreabă de mare,
Din cauza apei.

Şi mai simt că devin
Parcă albastru, parcă nemărginit,
Cu stele pe ochi
Şi pe vârful degetelor.

(Moartea ceasului, 1966)

**

Tóxicos

O campo, os montes, as águas, o céu
Penetraram-me o sangue
E resta agora
Aguardar os efeitos.

Em razão da relva campestre,
Sinto que verdejo.

Assim como, em razão dos montes,
Estou repleto de dúvidas
E de hesitações.

Já em razão das águas,
Meus pés achatam as pedras
Do caminho,
E me sinto instigado ante todas as coisas.

Sinto, ainda, que estou quase
Em estado celeste,
Reluzindo estrelas nos olhos
E sibilando o vento entre meus dedos.


(A morte das horas, 1966)
(trad. joão monteiro)

Vinicius de Moraes



Soneto de Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
(soneto musicado por Tom Jobim)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Antônio LaCarne

saturday


em html eu destruí o mundo de cabo a rabo
(sempre anônimo)
mas com a foto de virginia woolf
na mão direita.

é que traduzi um fantasma em mim:
seus olhos
sua crosta terrestre
o monstro na jaula que nunca vê
o dia.

outra vez quero passar despercebido
mergulhar no verão
balançar o corpo de vez em quando
e nunca mais
pronunciar aquele chão de dores.

aí talvez
num corpo de elefante único no planeta
eu esqueça você indo embora
numa despedida que não tem cara
de despedida.