quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Jorge Luis Borges (2)

casi juicio final


Mi callejero no hacer nada vive y se suelta por la variedad de la noche.
La noche es una fiesta y sola.
En mi secreto corazón yo me justifico y ensalzo.
He atestigado el mundo, he confesado la rareza del mundo.
He cantado lo eterno: la clara luna volvedora y las mejillas que apetecen el amor.
He conmemorado con versos la ciudad que me ciñe y los arrabales que se desgarran.
He dicho asombro donde otros dicen solamente costumbre.
Frente a la canción de los tibios, encendí mi voz en ponientes.
A los antepasados de mi sangre y a los antepasados de mis sueños he exaltado y cantado.
He sido y soy.
He trabajado en firmes palabras mi sentimiento que pudo haberse disipado en ternura.
El recuerdo de una antigua vileza vuelve a mi corazón.
Como el caballo muerto que la marea inflige a la playa, vuelve a mi corazón.
Aún están a mi lado, sin embargo, las calles y la luna.
El agua sigue siendo grata em mi boca y el verso no me niega su gracia.
Siento el pavor de la belleza; ¿quién se atreverá a condenarme si esta gran luna de mi soledad me perdona?

(in luna de enfrente, 1925)

Jorge Luis Borges

jactancia de quietud


Escrituras de luz embisten la sombra, más prodigiosa que meteoros.
La alta ciudad inconocible arrecia sobre el campo.
Seguro de mi vida y de mi muerte, miro los ambiciosos y quisiera entenderlos.
Su día es ávido como el lazo en el aire.
Su noche es tregua de la ira en el hierro, pronto en acometer.
Hablan de humanidad.
Mi humanidad está en sentir que somos voces de una misma penuria.
Hablan de patria.
Mi patria es un latido de guitarra, unos retratos y una vieja espada,
la oración evidente del sauzal en los atardeceres.
El tiempo está viviéndome.
Más silencioso que mi sombra, cruzo el tropel de su levantada codicia.
Ellos son imprescindibles, únicos, merecedores del mañana.
Mi nombre es alguien y cualquiera.
Paso con lentitud, como quien viene de tan lejos que no espera llegar.  

(in luna de enfrente, 1925)

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O silêncio também é música


o silêncio também é música

aquela que se canta no canto
(ao lado)

às margens das notas:

 

os contos
precisam dos pontos

(e é por isso que,
ao lado das palavras,
usamos vírgulas

[mas as vírgulas na poesia

muitas vezes são aspas silenciosas]

                                                                                              : licença poética)
si = li      

               lên = cen

                             cio = ça
 
             
                           

se queremos contar uma coisa
e não conseguimos,
faltam pontos
em nosso silêncio
se falamos além
do que queríamos,
falta silêncio
em nossos pontos
(e isso acontece demais

[eis a importância de respirar]
                                                     )

Pensamentos sobre a arte


Todas as artes são como espelhos destinados a mostrar aos homens aquilo que, até então, desconheciam a respeito de si. 
(Alain)

*

Uma questão, não tão ridícula quanto possa inicialmente parecer: existe um bom gosto em homens de corações corrompidos? 
(Denis Diderot)

*

Os templos edificados em tributo à religião são, na verdade, tributos à arquitetura. 
(Ludwig Feuerbach)

*

Sem música, a vida seria um erro
(Friedrich Nietzsche)

O crítico assiste a concertos e a peças de teatro; o jornalista frequenta a academia; a imprensa reina na sociedade; e a arte acabou, enfim, por degenerar-se em algo a serviço da diversão e de um entretenimento fácil; a crítica estética, assim, apresenta-se como instrumento de uma sociedade frívola, egoísta, dispersa e miseravelmente banal... Embora falemos de arte hoje com uma frequência não usual em outros tempos, não menos atual é o descaso na vivência artística.   
(Friedrich Nietzsche)

A arte, e nada além da arte! Apenas ela nos permite suportar a vida. A arte é mais importante para o homem que a verdade.
(Friedrich Nietzsche)

*

A obra de arte  como o são os produtos em geral  cria um público apto a compreendê-la e a dela fruir. A produção artística, então, não apenas resulta da criação de um objeto por um sujeito, mas também da criação de um sujeito por um objeto. 
(Karl Marx)  


(in Pensées sur l'art, compilados por André Comte-Sponville, Paris: Albin Michel, 1999)

domingo, 22 de dezembro de 2013

clair de lune


                                                clair de lune
                                                bee :
                                                tô vendo
                                                début?
                                                sim

Troca de livros

O site livralivro.com.br é um lugar bem legal para os interessados em troca de livros. 

Fica aqui a dica.

Pablo Neruda (2)

FIN DE FIESTA
[excerto]

IX
La noche se parece al agua, lava el cielo,
entra en los sueños con un chorro agudo
la noche
tenaz, interrompida y estrellada
sola
barriendo los vestigios
de cada día muerto
en lo alto las insignias
de su estirpe nevada
y abajo
entre nosotros
la red de sus cordeles, sueño y sombra.

De agua, de sueño, de verdad desnuda,
de piedra y sombra
somos o seremos,
y los nocturnos no tenemos luz,
bebemos noche pura,
en el reparto nos tocó la piedra
del horno cuando fuimos
a sacar el pan
sacamos sombra
y por la vida 
fuimos
divididos:
nos partió la noche,
nos educó en mitades
y anduvimos
sin tregua, traspasados
por estrellas.

(in Cantos cerimoniales, 1961)

sábado, 21 de dezembro de 2013

Diálogo sobre a natureza humana

(por Edgar Morin e Boris Cyrulnik)

EDGAR MORIN
É interessante observar o seguinte paradoxo: é por razões irracionais que nós racionalizamos.

BORIS CYRULNIK
Concordo contigo! De fato, ninguém consegue explicar a necessidade humana de racionalização e de busca por coerência nas coisas. Mas precisamos entender que, talvez, essa necessidade de coerência seja estimulada pelo cérebro. Os animais vivem em um mundo mais contextual que o mundo dos homens, já que, ao menos em tese, o mundo animal desconhece o fenômeno linguístico. Já o homem pauta sua vida em discursos narrativos, em especulações, em virtualidades, em fórmulas e teoremas. Nossas emoções também têm explicações físicas. Se eu estimular o rinencéfalo, a porção do córtex cerebral responsável pelo olfato, ou se eu extrair parte de meu lobo frontal, seria capaz de dotar-me de um sistema de representação completamente diverso. Para a explicação das emoções humanas, portanto, não há apenas respostas nos fatores sócio-culturais que nos cercam, mas há respostas também na própria atividade cerebral. 

EDGAR MORIN 
Acrescento, ainda. A dúvida não deve ser capaz de suplantar a fé. Aqueles que creem não podem, igualmente, ignorar a dúvida em prol de dogmas. Mesmo para os mais céticos, a fé será sempre potencialmente possível em momentos de fraqueza. Nos tempos atuais, creio não ser possível encarar fé e dúvida como compartimentos estanques. O estado mais sublime de ambas as coisas deve pressupor uma convivência harmônica. No mundo animal, o desenvolvimento da inteligência não ocorre em detrimento do desenvolvimento da afetividade; ao contrário, inteligência e afetividade desenvolvem-se conjuntamente. Mas também é verdade que o excesso de afetividade pode nos cegar em dadas situações. Sem a afetividade, nossa sede por conhecimento, nossos impulsos de busca por respostas para a compreensão do mundo estariam comprometidos. É definitivamente urgente que cessemos de afirmar que o desenvolvimento da inteligência acontece em detrimento da afetividade!      

(in Dialogue sur la nature humaine, Éditions de l'Aube, 2000)

Adília Lopes

UM FIGO


Deixou cair a fotografia
um desconhecido correu atrás dela
para lhe entregar
ela recusou-se a pegar na fotografia
mas a senhora deixou cair isto
eu não posso ter deixado cair isto
porque isto não é meu
não queria que ninguém
e sobretudo um desconhecido
suspeitasse que havia uma relação 
entre ela e a fotografia
era como se tivesse deixado cair 
um lenço cheio de sangue
porque era ela quem estava na fotografia
e nada nos pertence tanto como o sangue
por isso quando uma pessoa se pica num dedo
leva logo o dedo à boca para chupar o sangue
o desconhecido apercebeu-se disso
é um retrato da senhora
pode ser o retrato de alguém muito parecido comigo
mas não sou eu
o desconhecido por ser muito bondoso
não insistiu
e como sabia que os mendigos
não têm dinheiro para tirar fotografias
deu a fotografia a um mendigo
que lhe chamou de figo


(in Antologia, Cosac & Naify, 7 Letras, 2002)

Pablo Neruda

FIN DE FIESTA
[excerto]

I
Hoy es el primer día que llueve sobre Marzo,
sobre las golondrinas que bailan en la lluvia,
y otra vez en la mesa está el mar,
todo está como estuvo dispuesto entre las olas,
seguramente así seguirá siendo.

Seguirá siendo, pero yo, invisible,
alguna vez ya no podré volver
con brazos, manos, pies, ojos, entendimiento,
enredados en sombra verdadera.

II
En aquellla reunión de tantos invitados
uno por uno fueron regresando a la sombra
y son así las cosas después de las reuniones,
se dispersan palabras, y bocas, y caminos,
pero hacia un solo sitio, hacia no ser, de nuevo
se pusieron a andar todos los separados.

III
FIN DE FIESTA... Llueve sobre Isla Negra,
sobre la soledad tumultuosa, la espuma,
el polo centelleante de la sal derribada,
todo se ha detenido menos la luz del mar.
Y adónde iremos?, dicen las cosas sumergidas.
Qué soy?, pregunta por primera vez el alga,
y una ola, otra ola, otra ola responden:
nace y destruye el ritmo y continúa:
la verdad es amargo movimiento.

(in Cantos cerimoniales, 1961)

sábado, 7 de dezembro de 2013

e. m. de melo e castro (2)

Desoposições


A mentira não se opõe à verdade
porque a mentira tem a verdade
de ser mentira.

O feio não se opõe ao belo
porque o feio tem uma verdade
sua.

Mas o belo pode conter a mentira
e o feio.

Isto é: a verdade é tão absolutamente relativa
como a mentira.

Isto é: ambas são rebeldes.

(in Neo-Poemas-Pagãos, São Paulo: Annablume, 2010)

Nelson Ascher (2)

Arte poética

                          Hol lettem részeg? elfeledtem részegen 
                                                             Sándor Weöres

Como é que vim parar
aqui quero dizer
no meio da poesia
quero dizer no meio

agora deste poema
aqui como é que vim
quero dizer agora
mesmo parar aqui

quero dizer no meio
sei lá de onde nem quando
e é como se tivesse
sei lá embebedado

e não lembrasse quero
dizer nem lembro mesmo
agora onde nem quando
nem quanto é que bebi

se é que bebi sei lá
o que mesmo mas vim
quero dizer agora
sei lá se vim parar

quero mas essa dor de
cabeça que não passa
dizer aqui no meio
sei lá mesmo do quê?

(in Parte alguma: poesia (1997-2004), São Paulo: Companhia das Letras, 2005)