terça-feira, 31 de julho de 2012
Emily Dickinson (7)
Is Immortality a bane
That men are so oppressed?
*
Ser imortal é exílio
Pois tanto oprime os homens?
(in 80 poemas de Emily Dickinson, trad. Jorge de Sena, Ed. Guimarães, 2010)
Juan Ramón Jiménez
RENACERÉ YO
(de La Estación Total)
Renaceré yo piedra,
y aún te amaré mujer a ti.
Renaceré yo viento,
y aún te amaré mujer a ti.
Renaceré yo ola,
y aún te amaré mujer a ti.
Renaceré yo fuego,
y aún te amaré mujer a ti.
Renaceré yo hombre,
y aún te amaré mujer a ti.
(in Antología poética, 16. ed., Cátedra, Madrid, 2006)
(de La Estación Total)
Renaceré yo piedra,
y aún te amaré mujer a ti.
Renaceré yo viento,
y aún te amaré mujer a ti.
Renaceré yo ola,
y aún te amaré mujer a ti.
Renaceré yo fuego,
y aún te amaré mujer a ti.
Renaceré yo hombre,
y aún te amaré mujer a ti.
(in Antología poética, 16. ed., Cátedra, Madrid, 2006)
segunda-feira, 30 de julho de 2012
lumes
obumbra
estremece
obceca
sombreia
alumia
enaltece
encarece
ateia
rareia
padece
alumbra
permeia
franze
exerce
constrange
rodeia
seu
direito
fundamental
ao
deslumbramento
sábado, 28 de julho de 2012
Rainer Maria Rilke (2)
Soneto a Orfeu n. XXII/I
Em nós a pressa mora.
Mas do tempo ao passar
tal bagatela ignora,
entre o que tem a vagar!
Tudo que corre agora
em breve há de acabar:
só o que custa e demora
nos pode consagrar.
Jovem, procura e ousa
– não a velocidade,
o voo tentador...
não, pois tudo repousa
no Eterno: claridade
e sombra, livro e flor.
(in Poemas / Rainer Maria Rilke, trad. Geir Campos, editora Luzes no Asfalto, São Paulo, 2010)
Rainer Maria Rilke
Soneto a Orfeu n. IX/I
Só quem a lira ao sol-pôr
já ousou dedilhar
pode o infinito louvor
sentir e cantar.
Só quem ousou comer, já,
a papoula com
os mortos – não perderá
mais o suave tom.
E se o reflexo no lago
a imagem contorna,
só ele a descobre.
Nesse reino dúbio e vago,
toda voz se torna
imortal e nobre.
(in Poemas / Rainer Maria Rilke, trad. Geir Campos, editora Luzes no Asfalto, São Paulo, 2010)
Só quem a lira ao sol-pôr
já ousou dedilhar
pode o infinito louvor
sentir e cantar.
Só quem ousou comer, já,
a papoula com
os mortos – não perderá
mais o suave tom.
E se o reflexo no lago
a imagem contorna,
só ele a descobre.
Nesse reino dúbio e vago,
toda voz se torna
imortal e nobre.
(in Poemas / Rainer Maria Rilke, trad. Geir Campos, editora Luzes no Asfalto, São Paulo, 2010)
J. S. Bach (2)
Prelúdio em si bemol menor do Livro I do Cravo Bem Temperado, de J. S. Bach.
O arranjo para cordas é de Villa-Lobos.
Esta é a versão pianística da mesma obra (acrescida da respectiva Fuga):
piano, Friedrich Gulda (1930-2000)
execução de 1972
(em minha opinião, um dos pianistas mais criativos que já houve)
sábado, 14 de julho de 2012
Autorretrato ante o espelho quebrado
Octavian Paler
[Autoportret
într-o oglindǎ
spartǎ]
Quando
finalmente seriam os sonhos mais tangíveis, dei-me conta: também as
paixões envelhecem. Não sou capaz de assegurar minhas próprias
vontades. Não me faltaram, decerto, metas falsas e entusiasmos
pueris. Jamais minha imaginação concebeu um mundo sem ti. Ainda que
não assumas o comum e paranóico orgulho de imaginar-te ao centro do
mundo, algo sempre duro de admitir, faltou-te inteligência ou
capacidade para aceitar que ninguém ensina o que quer que seja,
exceto retratos amarelados, velhas fotos lançadas à lixeira tão
logo partas. Aos outros, somos marionetes bufas, personagens melhores
[ou atuantes patéticos]. Todas as certezas que já tive esvaíram-se,
sem ressalva alguma. Também as alegrias passadas assumem tom
melancólico na lembrança. O passado é vivo, integra o presente e o
influencia na proporção do conflito diário. “Daqui a pouco”
transforma-se em “mais tarde”. Comecei a perceber que, de atores
em cena, tornamo-nos figurantes. E a memória revolve-se em perdão.
A lembrança tem um dom estivo, dá-nos o verão como estação de
destino. Hoje, sobram-me dúvidas; fito o céu apenas com a esperança
de um guarda-chuva, como todos aqui em Bucareste, que, sob nenhum
lirismo, admiram e respiram fumaça [quando chove, inevitavelmente
pisamos em poças múltiplas]. Associando-me a outros, a atmosfera,
de tão dura, não me permite integrar, e acabo sempre só. Porque
busco alguma coisa [pouca coisa mas algo] e sou errante num mundo de
tudo que
te dá nada.
A humanidade tomou o lugar do próprio homem. Hoje, preciso apenas de
um muro para levantar e, por não o encontrar, eis o desespero. Uma
vida medíocre é justificável. A mediocridade das ilusões,
todavia, é inescusável. E continuamos sonhando, mais e mais [sem
limites]. Por quê? Talvez, possa-me abandonar sobre a imagem
quebrada do espelho, sem o temor do pecado. Soube que há uma língua
atualmente falada por um homem apenas. Como discutir? O mistério
mais sutil é a banalidade. Nesse cotidiano, guardo contigo meu
segredo supremo. Seria a criação do universo uma obra banal? As
estrelas apontam, todas as noites, nossa morte [ou vida constelada
emudecida]. Deus criou o homem e confiou ao diabo a tarefa do
desfazimento. O diabo não tem limites. Seria a linguagem o extremo
dessa falta?
Atentei-me
demais ao detalhe, perdi o foco?
[vou
reescrever]
(trad.
livre joão monteiro)
(in
Autoportret într-o
oglindǎ spartǎ,
Ed.
Albatros, Bucareste, 2007)
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Lucian Blaga (7)
POEZIA
Un fulger nu trăieşte
singur, în lumina sa,
decât o clipă, cât îi ţine
drumul din nor până-n copacul
dorit, cu care se uneşte.
Şi poezia este - aşa.
Singură-n lumina sa
ea ţine pe cât ţine:
din nour până la copac,
de la mine pân' la tine.
...
POESIA
O raio apenas dura,
em seu lampejo,
um momento,
senda passageira entre nuvem e árvore
rota traçada por essa união.
Assim é também a poesia.
Solitária em sua luz,
ela se basta:
da nuvem à árvore,
de mim a você.
(trad. joão monteiro)
Un fulger nu trăieşte
singur, în lumina sa,
decât o clipă, cât îi ţine
drumul din nor până-n copacul
dorit, cu care se uneşte.
Şi poezia este - aşa.
Singură-n lumina sa
ea ţine pe cât ţine:
din nour până la copac,
de la mine pân' la tine.
...
POESIA
O raio apenas dura,
em seu lampejo,
um momento,
senda passageira entre nuvem e árvore
rota traçada por essa união.
Assim é também a poesia.
Solitária em sua luz,
ela se basta:
da nuvem à árvore,
de mim a você.
(trad. joão monteiro)
José Paulo Paes (6)
HINO AO SONO
sem a pequena morte
de toda noite
como sobreviver à vida
de cada dia?
(in Poesia completa, Companhia das Letras, São Paulo, 2008)
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