domingo, 28 de agosto de 2011

poemetos pontuais


ponto de vista
ponto na vista
ponto em vista
invista no ponto

...

ponto ponto ponto
três pontos mais
me sairiam um tombo

...

no topo do ponto
há uma esfera
que é o próprio ponto
tombado

Maurício Segall


COLCHÃO

Estou a prumo
vislumbro o musgo
na rocha fêmea
terra

no lusco-fusco
repouso meu corpo
neste coxim
pedra

(in Dos bastidores à ribalta, Iluminuras, São Paulo, 2002)

sábado, 27 de agosto de 2011

Ferreira Gullar


INSETO

Um inseto é mais complexo que um poema
Não tem autor
Move-o uma obscura energia
Um inseto é mais complexo que uma hidrelétrica

Também mais complexo
que uma hidrelétrica
é um poema
(menos complexo que um inseto)

e pode às vezes
(o poema)
com sua energia
iluminar a avenida
ou quem sabe
uma vida

(in Em alguma parte alguma, José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 2010)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Jorge Manrique

1.


Recuerde el alma dormida,
avive el seso y despierte
contemplando
cómo se pasa la vida,
cómo se viene la muerte
tan callando;
cuán presto se va el placer,
cómo, después de acordado
da dolor,
cómo, a nuestro parecer,
cualquiera tiempo pasado
fue mejor.

(in Coplas, ed. de Amparo Medina-Bocos, ed. Edaf, Madrid, 2007)

domingo, 21 de agosto de 2011

San Juan de la Cruz

Coplas de el alma que pena por ver a Dios


Vivo sin vivir en mí.
y de tal manera espero
que muero porque no muero.

1.

En mí yo no vivo ya
y sin Dios vivir no puedo
pues sin él y sin mí quedo
este vivir qué será?
Mil muertes se me hará
pues mi misma vida espero
muriendo porque no muero.

2.

Esta vida que yo vivo
es privación de vivir
y assi es contino morir
hasta que viva contigo.
Oye mi Dios lo que digo
que esta vida no la quiero
que muero porque no muero.


3.

Estando absente de ti
qué vida puedo tener
sino muerte padescer
la mayor que nunca vi?
Lástima tengo de mí
pues de suerte persevero
que muero porque no muero.

4.

El pez que del agua sale
aun de alibio no caresce
que en la muerte que padesce
al fin la muerte le vale.
Qué muerte habrá que se yguale
a mi vivir lastimero
pues si más vivo más muero?

(...)

8.

Lloraré mi muerte ya
y lamentaré mi vida
en tanto que detenida
por mis pecados está.
O mi Dios, quándo será
quando yo diga de vero
vivo ya porque no muero?



(in Poesía, Catedra, Madrid, 2008)

Tang (2)


Queria eu, esconder-me na montanha. Estudar a Via.
Mas não aguento, o frio - nem suporto, a fome.



(China: Dinastia Tang, 618-907 d.C.)
(in poemas anônimos, por Gil de Carvalho, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004)

Tang


A árvore de alta montanha
Padece do vento e da chuva.


A árvore da beira da estrada
Padece - do machado e machete.


(China: Dinastia Tang, 618-907 d.C.)
(in poemas anônimos, por Gil de Carvalho, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004)

Yosano Akiko


o vento sobre
o campo desolado
lamento de deus
por deixar as multidões
de flores amarem-se


(in Descabelados, trad. Donatella Natili e Álvaro Faleiros, UnB, 2007)

Ricardo Carlaccio


Mentira!


Uma verdade
Revoltada.




(in postal mambembe, São Paulo, 2001)

e. e. cummings

Beautiful

is the
unmea
ning
of(sil

ently)fal

ling(e
ver
yw
here)s

Now


...


Belo

é o
in signi
ficante
ca(sil

ente)ir da

gar(em
tod
olu
gar)oa

Agora


(in O tigre de veludo, trad. Maurício Cardozo, Ed. UnB, 2007)

nublado II




dias que retornam


a cada cinza





desamparo





(in gavetário)

Georg Trakl


AMÉM

Decomposição deslizando pelo quarto podre;
Sombras no papel de parede amarelo; em escuros espelhos se
Curva a tristeza ebúrnea de nossas mãos.
Pérolas marrons correm pelos dedos falecidos.
No silêncio
Abrem-se azuis os olhos-papoula de um anjo.


Azul é também a tarde;
O momento de nossa morte, a sombra de Azrael,
Que escurece um jardinzinho marrom.


(in De Profundis, trad. Cláudia Cavalcanti, Iluminuras, 2010)

Luiza Neto Jorge (2)

FÁBULA

O animal entende-se:
tem cascos põe-os a render
em pele aquece
fecha-se nos olhos para adormecer
tudo quanto lembra esquece


Dispende-se.
Permanece.


(in poesia, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001)

Emil Cioran (2)

O medo de sermos ludibriados é a versão vulgar da busca pela Verdade.



Toda conquista, não importa de que ordem, implica empobrecimento interior: embaça a lembrança do que somos e tolhe a valia de nossos limites.



(in De l'inconvénient d'être né, Gallimard, 2009)

sábado, 20 de agosto de 2011

introdução a um diálogo inocente (ou otimizar)


- cê tá bem?

- tô ótimo
tá tudo ótimo

- que bom...
que ótimo que cê tá ótimo
eu não tô...
eu não tô tão ótimo
eu não tom tão átimo
eu não tô no tom

- que nada...
cê tá bem!

- tô ótimo

Orides Fontela (3)


MEMÓRIA

A cicatriz, talvez
não indelével

o sangue
agora
estigma.


VER

Ver
o avesso
do sol o
ventre
do caos os
ossos.

Ver. Ver-se.
Não dizer nada.


(in Teia, 1996)
(in Poesia Reunida, Cosac & Naify, 2006)

Francisco Alvim (2)


HISTÓRIA NATURAL

Diz que o caramujo
músculo sem gemido
não cabe mais na concha
do seu prazer espremido


(in Dia sim dia não, 1978)
(in Poemas, Cosac & Naify, 2004)

Emil Cioran

Não existe sensação falsa.

Viver é perder terreno.

A preciosa salvaguarda da solidão depende de nossa habilidade para magoar os outros, a começar por aqueles que amamos.

Apenas uma coisa importa: aprender a perder.

O aforismo? Fogo sem chama. E, assim, muitos não creem no seu calor.


(in De l'inconvénient d'être né, Gallimard, 2009)

domingo, 14 de agosto de 2011

tronco (2)


Lucian Blaga (2)

Não me pressentes?


Não me pressentes a loucura quando escuta
como em mim murmura a vida
como um jorro
impetuoso em cavernas ressoantes?

Não me pressentes a chama quando nos braços
Estremeces-me como gota
de orvalho vestida
de um raio de luz?

Não me pressentes o amor quando miro
com paixão teu abismo
e te digo:
Ó, jamais vi Deus
maior!?


(in A grande travessia, trad. Caetano Waldrigues Galindo, Ed. UnB, Brasília, 2005)

sábado, 13 de agosto de 2011

Dúvidas de pronúncia?


Sabe o nome daquele autor cazaque (cazaquistanês) que você sempre desejou pronunciar corretamente, mas nunca obteve uma fonte segura de consulta?


SEUS PROBLEMAS ACABARAM:

http://pt.forvo.com/


Esse site é maravilhoso. Recebe colaboração de pessoas nativas das respectivas línguas.

Lucian Blaga

AUTOPORTRET


Lucian Blaga e mut ca o lebădă.
În patria sa
zăpada făpturii ţine loc de cuvânt.
Sufletul lui e în căutare
în muta, seculara căutare
de totdeauna,
şi până la cele din urmă hotare.

El caută apa din care bea curcubeul.
El caută apa,

din care curcubeul
îşi bea frumuseţea şi nefiinţa.

...

AUTO-RETRATO


Lucian Blaga está mudo como um cisne.
Em sua pátria
a neve dos seres tomou o lugar do Verbo.
Seu espírito reside em buscar,
em muda busca secular,
desde sempre,
e até ao último lugar.

Ele busca a água de que bebe o arco-íris.
Ele busca a água,

de que o arco-íris
bebe sua beleza e seu não-ser.


(in A grande travessia, trad. Caetano Waldrigues Galindo, Ed. UnB, Brasília, 2005)

domingo, 7 de agosto de 2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ricardo Corona

MÚSICA


: à procura dos teus buracos

: em cada fracta contra o fragmento

: no oco no caos na casa

: à procura de silêncio

: saindo dos teus buracos


(in Corpo sutil, Iluminuras, São Paulo, 2005)