sábado, 24 de maio de 2014

Georg Trakl

NASCIMENTO

Montanhas: negror neblina e neve.
Vermelha, a caça desce a floresta;
Oh, os olhares de musgo da presa.

Silêncio de mãe; sob pinheiros negros
Abrem-se as mãos dormentes
Quando, vencida, aparece a fria lua.

Oh, nascimento do Homem. Noturna murmura
A água azul no fundo da rocha;
O anjo decaído olha em suspiros sua imagem,

E pálido corpo desperta em câmara úmida.
Duas luas
Iluminam os olhos da anciã pétrea.

Dor, grito que dá à luz. Com asa negra
A noite toca a têmpora do menino,
Neve que desce de nuvem purpúrea.

[1913]

(in De Profundis, Tradução de Claudia Cavalcanti, São Paulo: Iluminuras, 2010)

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