sábado, 18 de maio de 2013

Mário Chamie

POETA MALDITO
 
 
Sou o poeta maldito.
Tudo o que digo e repito
é desdito
e é negado.

Mas nem por ser
maldito e poeta,
sou um poeta coitado;
pois se é desdito e renegado
tudo o que hoje digo,
tudo o que agora falo
amanhã será lembrado.

O poeta assim ouvido
diz bem o que é pensado:
repensa o dito desdito
e de poeta maldito
faz o dito bem-amado:
o dito que pensa e renova
o seu futuro presente
no seu futuro passado.

Sou o poeta maldito.
Tudo o que hoje digo
será sempre o meu legado.

Antes, depois e durante,
fui o futuro passado.
Sou o futuro presente
de tudo que agora falo.

Bendito ou mal-amado,
digo e repito constante
a todo poeta coitado:
sou a verdade do escárnio
que celebra o seu ditado
e renega o celebrado.

 
(in Horizonte de Esgrimas, Ribeirão Preto: Funpec editora, 2002)
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário