sábado, 21 de janeiro de 2012

Luiza Neto Jorge (4)

RITUAL

a jarra tombou
a água correu sobre a mesa

as flores calaram-se aos poucos
o espantalho tocou o acordeão

a criança cansou-se do vento
desatou as sandálias

o mar meditou duas vezes
qual o horizonte

do sótão a galinha presa
viu um avião voar

uns quantos vestiram-se de negro
viveram da morte dos outros

suicidou-se uma sombra
debaixo do meu pé

a mulher calçou-se de branco
para a ressurreição

o país desbotou
no mapa das escolas

amor que esperas de mim
a não ser eu

(in poesia, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001)

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