terça-feira, 5 de julho de 2011

César Vallejo

LXXVII

Graniza tánto, como para que yo recuerde
y acreciente las perlas
que he recogido del hocico mismo
de cada tempestad.

No se vaya a secar esta lluvia.
A menos que me fuese dado
caer ahora para ella, o que me enterrasen
mojado en el agua
que surtiera de todos los fuegos.

¿Hasta dónde me alcanzará esta lluvia?
Temo me quede con algún flanco seco;
temo que ella se vaya, sin haberme probado
en las sequías de increíbles cuerdas vocales,
por las que,
para dar armonía,
hay siempre que subir ¡nunca bajar!
¿No subimos acaso para abajo?


Canta, lluvia, en la costa aún sin mar!


(in Trilce, Lima/PERU, 1922)


LXXVII

Graniza muito, para que eu me lembre
de acrescer as pérolas
que colhi da face
de cada tempestade.

Que esta chuva não seque.
A menos que me fosse permitido
tombar agora por ela, ou que me sepultassem
molhado na água
que brotasse de todos os lares incandescidos.

Até onde esta chuva me alcançará?
Temo não molhar o dorso;
temo que ela parta, sem ter-me provado
nas estiagens de incríveis cordas vocais,
pelas quais,
para dar harmonia,
temos sempre que subir – nunca baixar!
Por acaso, não subimos para baixo?

Cante, chuva, na costa ainda sem mar!


(in Trilce, Lima/PERU, 1922)

(trad. joão monteiro)

Nenhum comentário:

Postar um comentário