LXXVII
Graniza tánto, como para que yo recuerde
y acreciente las perlas
que he recogido del hocico mismo
de cada tempestad.
No se vaya a secar esta lluvia.
A menos que me fuese dado
caer ahora para ella, o que me enterrasen
mojado en el agua
que surtiera de todos los fuegos.
¿Hasta dónde me alcanzará esta lluvia?
Temo me quede con algún flanco seco;
temo que ella se vaya, sin haberme probado
en las sequías de increíbles cuerdas vocales,
por las que,
para dar armonía,
hay siempre que subir ¡nunca bajar!
¿No subimos acaso para abajo?
Canta, lluvia, en la costa aún sin mar!
(in Trilce, Lima/PERU, 1922) 
LXXVII
Graniza muito, para que eu me lembre 
de acrescer as pérolas 
que colhi da face 
de cada tempestade.
Que esta chuva não seque.
A menos que me fosse permitido 
tombar agora por ela, ou que me sepultassem 
molhado na água 
que brotasse de todos os lares incandescidos.
Até onde esta chuva me alcançará?
Temo não molhar o dorso; 
temo que ela parta, sem ter-me provado  
nas estiagens de incríveis cordas vocais,
pelas quais, 
para dar harmonia,  
temos sempre que subir – nunca baixar!
Por acaso, não subimos para baixo? 
Cante, chuva, na costa ainda sem mar!    
(in Trilce, Lima/PERU, 1922) 
(trad. joão monteiro)

Nenhum comentário:
Postar um comentário