domingo, 7 de abril de 2013

Luís Quintais

POESIA, MELANCOLIA, VELOCIDADE


A poesia é um horizonte de árvores negras
desenhado no chão da biografia,

uma forma de melancolia consentida,
ou tão-só a definida solitária translação

de uma rosa onde se recolhe
o indiviso fogo por dizer.

Hoje, comecei a escrever tarde
e, rapidamente, por ágil verdade,

terminei o exercício pedido.
Estou certo de que tudo

é comércio, uma ilegibilidade
entre rostos. Depois disso há a leveza

de um sonho ou de uma nuvem,
o amor liquefeito como coisa mental

dobrando-se, a serpente mortal da linguagem.
Arrumei a mala, fechei a escrita.

Só a velocidade nos pode restituir a beleza.
É veloz o mundo e os papéis voam.


(in a vista desarmada, o tempo largo. Antologia. Poetas em homenagem a Vasco Graça Moura. Quetzal Editores, Lisboa, 2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário