sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O senhor "eu..."


Próximo ao lago Djerid, lá onde a água e a terra formam o sal, um homem pretensioso bradava por praças e ruas seus discursos, sempre começando com "eu...". 

Se visse alguém erguer um muro, dizia:
- Eu faria assim.

Se visse um tecelão armar o tear, dizia:
- Teria feito assim.

Sempre o mesmo "eu...".

O próprio imã, que era um homem generoso e receptivo às palavras, depois de um tempo não o conseguia mais suportar.

Certo dia, numa ruela, o sabichão escorregou sobre figos podres. Com os quadris doloridos, bravejou ainda ao chão:
- Jamais plantaria aqui estas figueiras! 

Um menino, então, aproximou-se para dizer:
- Em teu lugar, eu apenas me levantaria.


[Quem tem resposta para tudo, quem sempre anuncia aquilo que supõe conhecer é certamente um ignorante]
HIKAM


(in ANDRÉ, Paul. Contos dos sábios do deserto, L'ippocampo, Milão, 2010)


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