domingo, 25 de novembro de 2012

Acender uma vela


O príncipe ancião Ping, exímio guerreiro, disse uma vez ao velho cego mestre de música da corte:

- Gostaria de ter estudado a língua do antigos sábios, mas, com os compromissos de Estado e as batalhas, não me sobrou tempo. Hoje, aos sessenta anos, não está já tarde para começar?

- À noite, respondeu o músico, acendo uma vela. 

O príncipe espantou-se com a resposta e retrucou:

- Como? Abro-te o coração e, em troca, ouço um disparate! 

Impassível à indignação do príncipe, respondeu o mestre de música:

- Quando estudamos desde a juventude, apanhamos o meio-dia. Em idade mais madura, recolhemos o crepúsculo. Já na velhice, bem... dizem os velhos sábios: "é melhor acender uma vela que maldizer a escuridão".   


(in ANDRÉ, Paul. Contos dos sábios taoístas, L'ippocampo, Milão, 2009)

2 comentários:

  1. Muito bom.
    Tentarei acender uma vela todos os dias.
    Tire as letrinhas do comentário. Além de não servirem para nada, espanta leitores.
    beijos!!!

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  2. Oi, Janice! No futuro, haverá outros posts, outros contos [sobre sua preciosa dica: quais/que são as "letrinhas do comentário"?] beijo, obrigado.

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