quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Sophia de Mello Breyner Andresen (3)


PORTAS DA VILA

I

A casa está na tarde
Actual mas nos espelhos
Há o brilho febril de um tempo antigo
Que se debate emerge balbucia

II

Com um barulho de papel o vento range na palmeira
O brilho das estrelas suspende nosso rosto
Com seu jardim nocturno de paixão e perfume
A casa nos invade e nos rodeia

III

A casa vê-se de longe porque é branca
Mas sombrio
É o quarto atravessado pelo rio

IV

A casa jaz com mil portas abertas
O interior dos armários é obscuro e vazio
A ausência começa poisando seus primeiros passos
No quarto onde poisei o rosto sobre a lua
   
(in Geografia, Editorial Caminho, Lisboa, 2004)

Nenhum comentário:

Postar um comentário