Octavian Paler
[Autoportret
într-o oglindǎ
spartǎ]
Quando
finalmente seriam os sonhos mais tangíveis, dei-me conta: também as
paixões envelhecem. Não sou capaz de assegurar minhas próprias
vontades. Não me faltaram, decerto, metas falsas e entusiasmos
pueris. Jamais minha imaginação concebeu um mundo sem ti. Ainda que
não assumas o comum e paranóico orgulho de imaginar-te ao centro do
mundo, algo sempre duro de admitir, faltou-te inteligência ou
capacidade para aceitar que ninguém ensina o que quer que seja,
exceto retratos amarelados, velhas fotos lançadas à lixeira tão
logo partas. Aos outros, somos marionetes bufas, personagens melhores
[ou atuantes patéticos]. Todas as certezas que já tive esvaíram-se,
sem ressalva alguma. Também as alegrias passadas assumem tom
melancólico na lembrança. O passado é vivo, integra o presente e o
influencia na proporção do conflito diário. “Daqui a pouco”
transforma-se em “mais tarde”. Comecei a perceber que, de atores
em cena, tornamo-nos figurantes. E a memória revolve-se em perdão.
A lembrança tem um dom estivo, dá-nos o verão como estação de
destino. Hoje, sobram-me dúvidas; fito o céu apenas com a esperança
de um guarda-chuva, como todos aqui em Bucareste, que, sob nenhum
lirismo, admiram e respiram fumaça [quando chove, inevitavelmente
pisamos em poças múltiplas]. Associando-me a outros, a atmosfera,
de tão dura, não me permite integrar, e acabo sempre só. Porque
busco alguma coisa [pouca coisa mas algo] e sou errante num mundo de
tudo que
te dá nada.
A humanidade tomou o lugar do próprio homem. Hoje, preciso apenas de
um muro para levantar e, por não o encontrar, eis o desespero. Uma
vida medíocre é justificável. A mediocridade das ilusões,
todavia, é inescusável. E continuamos sonhando, mais e mais [sem
limites]. Por quê? Talvez, possa-me abandonar sobre a imagem
quebrada do espelho, sem o temor do pecado. Soube que há uma língua
atualmente falada por um homem apenas. Como discutir? O mistério
mais sutil é a banalidade. Nesse cotidiano, guardo contigo meu
segredo supremo. Seria a criação do universo uma obra banal? As
estrelas apontam, todas as noites, nossa morte [ou vida constelada
emudecida]. Deus criou o homem e confiou ao diabo a tarefa do
desfazimento. O diabo não tem limites. Seria a linguagem o extremo
dessa falta?
Atentei-me
demais ao detalhe, perdi o foco?
[vou
reescrever]
(trad.
livre joão monteiro)
(in
Autoportret într-o
oglindǎ spartǎ,
Ed.
Albatros, Bucareste, 2007)
maravilha! agradeço muito sua intradução de octavian paler. poesia viva. abraço e brisa da parahyba.
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