Obrigado
a fazê-lo ou ludibriado por mim mesmo, vejo-me impulsionado a revelar-lhes como
escrevo meus contos, e eu o farei com explicações exteriores a eles. Não são
completamente espontâneos, no sentido de não intervir a consciência. Isso seria
antipático. Não são dominados por uma teoria da consciência. Isso seria
extremamente antipático. Preferiria dizer que essa intervenção é misteriosa. Meus
contos não têm estruturas lógicas. Apesar de uma vigilância constante e
rigorosa, também a consciência me é desconhecida. Em certos momentos, penso que
em algum recôndito meu nascerá uma planta. Começo a observá-la acreditando que
em algum canto desse recôndito produziu-se algo raro, contudo com pendor
artístico. Seria feliz se essa ideia não fracassasse completamente. Não
obstante, devo esperar por um tempo indeterminado: não sei como germinar a
planta, nem como regá-la, nem como fazê-la crescer: apenas permaneço firme em
minha convicção de querer ver em suas folhas algo de poesia; ou algo que se
transforme em poesia, conforme o olhar de quem a observa. Devo evitar que ela
ocupe muito espaço, que não pretenda ser bela ou muito intensa, mas que seja
apenas a exata planta predestinada; devo empenhar-me para que alcance seu
destino. Ao mesmo tempo, ela crescerá sob os olhos de um observador que não
prestará muita atenção em suas sutilezas, mais preocupado em propor-lhe
grandezas. Se for uma planta dona de si, terá uma poesia natural, desconhecida
por ela própria. Deverá ser como uma pessoa que não sabe mais quanto tempo
viverá, com necessidades autênticas, com um orgulho discreto, meio acanhado e
aparentemente improvisado. Ela mesma não conhecerá suas leis, ainda que
profundamente as retenha e ainda que não as alcance a consciência. Não saberá
o grau nem a maneira em que intervirá a consciência, mas em último caso
imporá sua própria vontade. E ensinará a consciência a ser desprendida.
O
mais certo de tudo é que realmente não sei como escrevo meus contos, pois cada
um deles tem uma vida independente e estranha aos outros e a mim. Sei também
que vivem brigando com a consciência para que arredios observadores, recomendados
por ela, jamais os leiam.
[tradução de João Monteiro]
(in Las Hortensias y otros relatos, Buenos Aires: El Cuenco de Plata, 2009)
[tradução de João Monteiro]
(in Las Hortensias y otros relatos, Buenos Aires: El Cuenco de Plata, 2009)
Nenhum comentário:
Postar um comentário