Próximo ao lago Djerid, lá onde a água e a terra formam o sal, um homem pretensioso bradava por praças e ruas seus discursos, sempre começando com "eu...".
Se visse alguém erguer um muro, dizia:
- Eu faria assim.
Se visse um tecelão armar o tear, dizia:
- Teria feito assim.
Sempre o mesmo "eu...".
O próprio imã, que era um homem generoso e receptivo às palavras, depois de um tempo não o conseguia mais suportar.
Certo dia, numa ruela, o sabichão escorregou sobre figos podres. Com os quadris doloridos, bravejou ainda ao chão:
- Jamais plantaria aqui estas figueiras!
Um menino, então, aproximou-se para dizer:
- Em teu lugar, eu apenas me levantaria.
[Quem tem resposta para tudo, quem sempre anuncia aquilo que supõe conhecer é certamente um ignorante]
HIKAM
(in ANDRÉ, Paul. Contos dos sábios do deserto, L'ippocampo, Milão, 2010)
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