sábado, 3 de setembro de 2011
Cecília Meireles
Mimetismo
O sábio no jardim sorria
do artifício da borboleta
convertida em folha amarela
até com manchas e defeitos.
O sábio sorria daquela
mentira. Ó colorido embuste!
Ó fingimento desenhado
por cegos presságios e sustos!
Para salvar seu breve tempo,
- tempo de inseto! - dom dos vivos,
tinha a borboleta bordado
seu sigiloso mimetismo.
(Atrás das máscaras, que morte
pode alcançar o oculto pólo
sensível, no pulsante abismo
onde a hora do existir se acolhe?)
(in O Estudante Empírico, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2005)
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