Carta de novembro
Amor, o mundo
Muda de cor de repente. A luz da rua
Fende as vagens dos laburnos
Feito rabos de rato, às nove da manhã.
É o Ártico.
Este pequeno círculo
Negro, com seus gramados de seda amarela – cabelo de bebês.
Há um verde no ar,
Suave, deleitável.
Ele me envolve com carinho.
Estou corada e morna.
Acho que posso ser enorme,
Estou tão estupidamente feliz,
Minhas galochas
Chapinham e chapinham pelo vermelho, lindo.
Esta propriedade é minha.
Duas vezes por dia
Passeio por ela, cheirando
O azevinho selvagem com suas vieiras
Verde-azuis, de ferro puro,
E o muro de antigos cadáveres.
Eu os adoro.
Eu os adoro como história.
As maçãs são de ouro,
Imagine –
Minhas setenta árvores
Guardando suas bolas douradas e vermelhas
Num caldo mortal cinzento e espesso,
Milhões
De folhas de ouro, de metal, sem fôlego.
Oh, amor, oh, celibato.
Só eu
Caminho molhada até a cintura.
Os insubstituíveis
Tesouros sangram e afundam, as bocas das
Termópilas.
(in Ariel, 2. ed., trad. Rodrigo Garcia Lopes, Maria Cristina Lenz de Macedo, Campinas, Verus, 2010)
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