POESIA, MELANCOLIA, VELOCIDADE
A poesia é um horizonte de árvores negras
desenhado no chão da biografia,
uma forma de melancolia consentida,
ou tão-só a definida solitária translação
de uma rosa onde se recolhe
o indiviso fogo por dizer.
Hoje, comecei a escrever tarde
e, rapidamente, por ágil verdade,
terminei o exercício pedido.
Estou certo de que tudo
é comércio, uma ilegibilidade
entre rostos. Depois disso há a leveza
de um sonho ou de uma nuvem,
o amor liquefeito como coisa mental
dobrando-se, a serpente mortal da linguagem.
Arrumei a mala, fechei a escrita.
Só a velocidade nos pode restituir a beleza.
É veloz o mundo e os papéis voam.
(in a vista desarmada, o tempo largo. Antologia. Poetas em homenagem a Vasco Graça Moura. Quetzal Editores, Lisboa, 2012)
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